Áudios mostram que Bolsonaro, além de despreparado, é frouxo com os filhos e mente sem cerimônia

Alguém um dia arriscou dizer que “o Brasil não é um país sério”. Por engano creditaram a frase ao general francês Charles de Gaulle, mas até hoje não se sabe ao certo quem é o autor dessa que é a mais completa tradução da barafunda em que se transformou o Brasil.

Como se não bastassem os efeitos colaterais da grave crise econômica e as reticências dos muitos casos de corrupção que chacoalharam o País em todos os seus quadrantes na última década, o presidente Jair Bolsonaro, que venceu a corrida eleitoral com a promessa de ser um Don Quixote tupiniquim, sequer consegue ser “mais do mesmo”. O que é um desalento até para os conformados.

No momento em que o governo precisa de concentração plena para encaminhar ao Congresso propostas que tirem o País do atoleiro, Bolsonaro prefere dedicar boa parte do tempo a questiúnculas típicas de políticos despreparados. E o imbróglio que contrapôs um dos seus filhos, Carlos Bolsonaro, e o agora ex-secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, é o exemplo dessa devastadora irresponsabilidade.

A demissão de Bebianno, que resistiu no cargo até o último instante para colocar em xeque a postura pífia do presidente da República, mostrou que o Brasil está em péssimas mãos. O que confirma a tese do UCHO.INFO de que Bolsonaro corre o sério risco de, em breve, ser transformado em uma espécie de figura decorativa no Palácio do Planalto, deixando a governança a cargo dos generais palacianos.


Quando Carlos Bolsonaro chamou publicamente Bebianno de “mentiroso”, ficou claro mais uma vez que o presidente da República não tem controle sobre os filhos, que interferem de forma escandalosa nas questões do governo, como se o futuro do País fosse um assunto familiar. A situação piorou quando Jair Bolsonaro, endossando a declaração do filho, também chamou Bebianno de mentiroso.

Uma crise política com menos de dois meses de governo é algo deveras preocupante, que compromete sobremaneira a imagem do presidente e gera desconfiança em relação ao futuro da democracia. Isso porque muitos temem, e com razão, a possibilidade de um “cavalo de pau” de Bolsonaro no meio do caminho, como forma de se manter no poder diante de qualquer situação que represente uma ameaça.

A maneira como o presidente da República lidou com a crise e tratou a demissão de Bebianno mostrou aos brasileiros o que é possível esperar de agora em diante. O ex-ministro, que havia feito um acordo de bastidor para não sair tão chamuscado, não foi atendido em seu pedido. Não por acaso, a divulgação de áudios das conversas entre Bebianno e Bolsonaro acabaram comprovando a farsa montada pelo presidente para justificar a demissão do antigo colaborador.

Que Jair Bolsonaro é despreparado nunca foi novidade, mas as tais gravações mostraram ao País que Jair Bolsonaro age com frouxidão em relação aos filhos e, a depender da situação, recorre sem cerimônia à mitomania. Afinal, como comprovam os áudios, Bebianno conversou três vezes com o presidente no último dia 12 de fevereiro.

Pressionado pelo filho, Carlos Bolsonaro, o presidente manteve durante longos cinco dias uma mentira desnecessária e que terá consequências imprevisíveis para um governo perdido e que ainda não mostrou a que veio. E há quem insista em afirmar que Bolsonaro é um mito.