(*) Carlos Brickmann
Bolsonaro, Rodrigo Maia, Moro e Paulo Guedes estão de bem. Segundo Bolsonaro, houve pequenas rusgas, “chuvas de verão”. Mas a amizade deve durar ao menos alguns dias: a crise viajou, foi para Israel. Lá, com recepção festiva, muitos acordos para assinar, não sobra tempo para novas brigas.
Todos cederam um pouco. Maia tinha dito que não ia falar com Moro, mas falou. Moro exigia análise rápida de suas medidas de combate ao crime organizado, mas, com a escolha da relatora na Comissão de Justiça, aceitou uma pequena demora, enquanto seu projeto é fundido com um anterior, de Alexandre de Moraes. Bolsonaro liberou Paulo Guedes para acordos com deputados, dentro da lei: recebe as emendas (legais) ao Orçamento e procura colocá-las de modo a que sejam úteis e se mantenham dentro do teto de gastos. O vice Mourão, que nem estava na briga, ficou feliz ao ser festejado por uns 600 empresários. Tudo está ótimo, ao menos enquanto estiver.
Os parlamentares, mesmo os mais pragmáticos, precisam se comportar. Se rejeitarem a reforma da Previdência e as consequências forem as que se anunciam – inflação em alta, menos investimentos, queda de empregos – vão levar a culpa. Colaborando, emplacam mais emendas, ficam de bem com o Governo Federal; e, se houver mesmo a tal “chuva de investimentos” que Guedes diz ser possível, tirarão fotos com ele e serão convidados para inaugurações. Claro, o filho 02 Carlos pode melar tudo. Mas nada é perfeito.
Como diz o poeta
Há quem diga que Jair Bolsonaro andou conversando com alguns de seus ministros militares, adeptos de mais moderação. É, porém, explosivo, reage com dureza quando se sente desafiado, e não serão conselhos de amigos, por mais respeitados que forem, que conseguirão contê-lo. Mas os negociadores de seus, dependendo do dia, aliados ou adversários, já sabem disso. E, para citar a própria expressão de Bolsonaro, de que as divergências foram chuvas de verão, é bom lembrar o que diz o autor da letra, Fernando Lobo: “Podemos ser amigos simplesmente/ coisas do amor, nunca mais”.
Pós-Israel
Bolsonaro combinou encontrar-se com Rodrigo Maia logo que voltar de Israel. O encontro deve selar o acordo de paz que ambos já anunciaram.
A guerra em números
Os índices mostram que as divergências entre Bolsonaro e Rodrigo Maia tiveram alto custo. O Índice de Confiança do Consumidor (FGV) desabou ao menor valor desde outubro de 2018, quando ainda havia dúvidas sobre o resultado das eleições. Em três meses – período de Bolsonaro no Governo – outro índice, o de Confiança do Comércio, caiu 8,3 pontos.
As armas do ministro
Guedes, embora não tenha experiência de articulação política, mantém bom entendimento com os parlamentares. E, além das conversas positivas sobre emendas ao Orçamento, acena com nova medida que agradará a Suas Excelências: um pacote de R$ 10 bilhões para Estados em dificuldades. Há governadores que assumiram Estados com cofres vazios e grandes dívidas. Ficarão felizes com a ajuda – e saberão que, se suas bancadas parlamentares estiverem de bem com o Governo Federal, será mais fácil obtê-la. O pacote, Programa de Equilíbrio Fiscal, está sob a responsabilidade do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida. Ainda será analisado pela Procuradoria-Geral da Fazenda e passará pelo ministro Paulo Guedes, mas a promessa é de que tudo será enviado ao Congresso, para exame e votação, em 30 dias.
Os prazos
O deputado Marcelo Freitas, relator escolhido para a reforma da Previdência, promete entregar seu texto em 9 de abril. O projeto de segurança – junção dos textos de Alexandre de Moraes e de Sérgio Moro – deve estar pronto para votação, segundo as previsões dos especialistas em plenário, dentro de 45 dias. Isso, é óbvio, se o entendimento entre o Governo Federal e os parlamentares continuar bom até lá. De qualquer forma, a tramitação da reforma da Previdência no Congresso será iniciada no Senado, não mais na Câmara. A proposta foi feita por Moro e aceita tranquilamente por Maia. E Moro não criou obstáculos à fusão de seu projeto com o de Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo. O acerto de posições entre ambos abre amplo campo para o entendimento político entre Governo e Congresso.
Águas passadas
Afinal, devem ou não os militares comemorar o 31 de março? Simples: se quiserem, que comemorem, como o vêm fazendo discretamente há muitos anos. Se não quiserem, que não comemorem. É tão ridículo proibi-los de lembrar a deposição de Jango quanto exigir que a festejem, 55 anos depois. É mais do que hora de trocar os militantes pelos historiadores. E não nos esqueçamos de que a grande imprensa, que hoje condena o “golpe”, na época o apoiava e chamava de “Revolução” – às vezes, Revolução Redentora.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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