Para blindar Bolsonaro no caso do vídeo sobre golpe de 64, porta-voz considera “assunto encerrado”

O jogo de “empurra-empurra” do Palácio do Planalto continua na órbita do polêmico e desnecessário vídeo sobre o golpe de 1964, produzido por determinação do presidente Jair Bolsonaro e distribuído para grupos de internet a partir de redes sociais da Presidência da República.

Bolsonaro, que nutre obsessão doentia pelo tema, sabe que incorreu em crime de responsabilidade, o que em algum momento pode levar a Câmara dos Deputados a dar seguimento a pedido de impeachment que já se encontra estacionado na Casa legislativa.

Para minimizar o estrago e tentar jogar o assunto para as calendas, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, que acompanha Bolsonaro na viagem a Israel, afirmou nesta terça-feira (2) que o vídeo é um “assunto encerrado”. “Esse é um assunto que nós já caracterizamos como encerrado”, disse Rêgo Barros ao ser questionado por jornalistas.

Durante entrevista na manhã desta terça, jornalistas cobraram do porta-voz explicações sobre a origem do material e perguntaram se o vídeo era oficial, mas ficaram sem resposta. “Esse é um assunto que nós não queremos comentar”, disse Rêgo Barros.


Fugir da responsabilidade é a marca oficial do governo de Jair Bolsonaro, que prefere não responder aos questionamentos quando determinados assuntos o incomodam. Que o presidente não tem estofo para o cargo todos sabem, mas democracia exige dos governantes transparência e responsabilidade, algo a que Bolsonaro não está disposto.

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República informou no domingo (31) desconhecer os responsáveis pela produção e pelo compartilhamento do vídeo, apesar de o material ter sido enviado através de um canal de comunicação da Presidência da República.

Na segunda-feira (1º), o vice-presidente Hamilton Mourão declarou que o Palácio do Planalto divulgou o vídeo por decisão de Bolsonaro. Perguntado se considerava adequada a divulgação pelo governo do vídeo no dia em que o golpe militar completava 55 anos, Mourão limitou-se a dizer que a responsabilidade era do presidente da República.

Comemorar e defender uma ditadura não cabe a um governante que diz defender a democracia. Jair Bolsonaro insiste em afirmar que em seu governo não há qualquer viés ideológico, mas a divulgação do polêmico vídeo deixa claro que o presidente falta com a verdade, pois sua intenção é implantar no País a ideologia ultradireitista, a exemplo dos pífios episódios que marcaram os primeiros noventa dias da sua gestão.

Fosse o Brasil um país minimamente sério e com autoridades à altura dos cargos que ocupam – não é o caso –, Jair Bolsonaro já estaria sendo processado por descumprir a legislação vigente. Por infortúnio, o Brasil é o paraíso do compadrio, onde nas altas esferas uma mão lava a outra, mesmo que ambas continuem sujas.