Ê, tosqueira!

(*) Marli Gonçalves

Arrumei esse bordão para pelo menos buscar um pouco de humor e diversão no meio de tudo isso, nesse momento que parece que nem nós nem o nosso país estão sendo levados exatamente a sério pelo homem que governa como se estivesse sempre pronto a disparar sua arminha de mão. E ele não vai parar de nos surpreender e corar

Passaram-se seis meses, nos quais não é exagero dizer que praticamente todos os dias enrubescemos. Decisões temerárias, declarações estapafúrdias, grosserias, ameaças e atos impensados, “Ss” mastigados sem dó, em falas apenas toscas, travestidas de simplicidade, verbos não conjugados e “pobremas”. E a contínua arrogância. A cara fechada, o olhar seco, duro, o pezinho batendo como um garoto mimado, aliás, como parece ser mesmo a característica de toda a família, os “Filhos do Capitão”, gente mimada que não entende contraditórios.

Por isso fica difícil – quase impossível – prever não só os próximos meses, mas também os próximos anos. Por onde se dará a resistência, de onde virão mais notícias. Onde encontraremos as soluções. Como deteremos ao menos o avanço da ignorância que parece não ter fim, a legião de seguidores sem cabeça, sem olhos, mas com rancor que disseminam de forma doentia, uma bílis verde e amarela, que escoa por onde passam.

Mas metade, mais do que a metade, é esperança. E nessa outra metade, que mantido esse ritmo se tornará logo ampla maioria, dá para tentar acreditar. Os resultados recentes das pesquisas avaliando aprovação, confiança e formas de agir nos dão algum alento, a de que mais brasileiros estão retomando consciência.

Não, ele não era desconhecido. Há quase três décadas agia sempre dessa mesma forma na política, sem que nada que realmente prestasse tivesse vindo de sua lavra. Mas nós nos distraímos e ele chegou lá, inclusive porque venceu um outro lado também sem quaisquer condições para o combate naquele momento. É preciso que fique claro o que foi que originou tudo isso, gestado no ventre de uma pátria ferida pela corrupção, revelada a gotas diárias dia a pós dia, no Lava Jato, a partir de notas fiscais de um posto de gasolina na periferia de Brasília.

Não sobrou pedra sobre pedra, houve erosão das grandes construtoras e as obras ficaram paradas, as pessoas, cidades, milhares de empregos, planos, sonhos, dinamitados. Qualquer coisa que se botasse na frente de um retrato poderia ser esperança. E no retrato apareceu o homem, alto, branco, olhos claros, que ainda por cima um maluco achou de esfaquear no meio do caminho, tornando-o mártir.

Assim foi que mais da metade o elegeu.

E nós, que fomos a outra parcela, pedaço menor, ainda assim acreditávamos que, quem sabe, uma responsabilidade dessa não pudesse melhorar a pessoa.

Mas as tosquices contínuas prosseguem, aliadas à uma falta de sorte coroada com a prisão esses dias de um sargento com 39 quilos de cocaína dentro de um avião da comitiva presidencial, e o nosso homem estava a caminho de um dos mais importantes encontros mundiais de líderes políticos. Depois, qual foi a sua declaração? Que o militar, infelizmente deveria ter sido pego não na Espanha, mas na Indonésia. Para que pegasse a pena de morte, como a dos outros dois brasileiros executados nos últimos anos, um deles até citado alegremente, nominalmente. Entenderam? Aí está embutido o apreço pela pena de morte, pela ausência de julgamentos justos, pelo extermínio. Não admira que nesses últimos meses a família toda tenha sido encontrada e tão citada no noticiário junto à palavra “milícia”. Esse, só um exemplo dos últimos dias.

E antes que venham falar do acordo histórico Mercosul – Comunidade Europeia, dobrem a língua, que isso já tem quase 20 anos de estrada e não virará realidade antes de alguns outros anos. Papel aceita tudo, inclusive assinaturas e promessas.

Agora vem a segunda parte do ano, precisamos renovar desejos, continuar achando que pode melhorar. Nos próximos dias dos meses que virão, mais vezes as partes dessas que se dizem metades – embora na realidade não se dividam em dois lados apenas – irão às ruas. Alguns, para defenderem o que parecem realmente acreditar; outros pela aparente vontade de ver o passado que acharam glorioso voltar, mas depende também de que trecho do passado é esse. Nas ruas protestos, pedidos, movimentações. Nas redes sociais, os debates. Nas redações, a busca, a reprodução e a exposição dos fatos. Mesmo que eles vazem a conta gotas e a contragosto.

(*) Marli Gonçalves, jornalista – Vamos lá. Feliz segundo semestre! Esperar para ver.

Os incríveis próximos meses de 2019

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