Presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz reagiu à manifestação rasteira e covarde de Bolsonaro e afirmou, por meio de nota, que as declarações demonstram ‘crueldade e falta de empatia’.
Na manhã desta segunda-feira (29), à porta do Palácio da Alvorada, o presidente da República abusou do seu apreço pelo totalitarismo ao falar sobre o desparecimento do pai de Felipe Santa Cruz, preso pelas forças de segurança do Estado durante a ditadura militar e até hoje desaparecido. “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar eu conto para ele”, disse Bolsonaro.
Santa Cruz afirma que, “como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro”.
“O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão”, afirmou o presidente da OAB.
“Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”, completou Santa Cruz.
“Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por “vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber”, destacou na nota Felipe Santa Cruz.
O presidente da OAB também afirmou que a “respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente”. “Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas”.
“O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram – e sempre estarão – sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil”, ressaltou o presidente da OAB.
“Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente”, concluiu.
Adepto do revanchismo ideológico e sem competência para ocupar a Presidência da República, Jair Bolsonaro age na contramão da democracia ao afirmar que conhece a forma como desapareceu o pai do presidente da OAB, ao mesmo tempo em que recorre à mitomania quando diz que Fernando Augusto Santa Cruz integrava a “Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco”.
De acordo com depoimento à Agência Brasil de um dos irmãos Fernando Augusto, ele jamais teve ligação com a luta armada. Ou seja, Bolsonaro recorreu mais uma vez à mentira para dar vazão à sua sanha persecutória que nutre em relação aos adversários ideológicos.
“Estamos relançando o livro, com documentos que a gente pegou desde a época do desaparecimento até a presente data. Fala da busca que mamãe fez à procura de Fernando nos cárceres do país todo. No novo livro sai o depoimento que um torturador daqui, o delegado de polícia Carlos Guerra. Ele conta que pegou Fernando, Eduardo Collier, Davi Capistrano e mais duas pessoas, e tocou fogo na usina, em Campos”, disse João Arthur (irmão de Fernando Augusto) em 21 de fevereiro de 2014, durante lançamento literário na sede da OAB fluminense e que contou com homenagem ao pai do atual presidente nacional da entidade.
“A gente encontra várias coisas que já tinha nesses 40 anos de busca, nomes de torturadores, a data certa da prisão dele aqui, 23 de fevereiro de 1974, no estado do Rio, no DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna]. Ele estava preso e desapareceu dali de dentro. Mataram ele ali dentro. Os torturadores da época ocultaram o cadáver, até hoje não devolveram o cadáver para a gente poder fazer uma sepultura digna para Fernando. A mãe, ainda viva, com100 anos [faleceu recentemente com 105 anos], continua fazendo essa pergunta para as autoridades deste país: Onde está o meu filho?”, disse João Arthur.
O livro-relatório “Direito à Verdade e à Justiça” destaca que documento do então Ministério da Aeronáutica informou, em 1978, que Fernando Santa Cruz tinha desaparecido. Informações de perseguidos políticos ressaltaram que o desaparecimento de Fernando ocorreu em 22 de fevereiro de 1974 e ele teria sido morto pelo DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio de Janeiro.
Que Jair Bolsonaro é um boquirroto contumaz todos sabem, até porque seus destampatórios não deixam dúvidas a respeito, mas ultrapassa a leviandade afirmar que a atuação dos jornalistas vem denegrindo a imagem do Brasil, principalmente no cenário internacional. A assessoria de comunicação do Palácio do Planalto deve estar dormindo, já que as declarações do presidente da República têm envergonhado brasileiros mundo afora. Só não sabe quem, fechando os olhos para a realidade, ignora as muitas notícias negativas sobre o Brasil na imprensa internacional.