Bolsonaro atenta contra a democracia ao chamar o torturador Brilhante Ustra de “herói nacional”

(Foto: Sérgio Lima – Folhapress)

É inconcebível no ambiente democrático alguém que classifica como herói nacional um torturador. O presidente Jair Bolsonaro, que diuturnamente atenta contra as mais basilares regras democráticas, tem incondicional apreço pelo falecido Carlos Alberto Brilhante Ustra, principal símbolo da repressão durante a ditadura militar. Ustra foi condenado em segunda instância por tortura e sequestro no regime militar (1964-1985).

Bolsonaro recebe nesta quinta-feira (8), no Palácio do Planalto, a viúva do “torturador-geral da República”, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, a quem o presidente se referiu como alguém com “coração enorme”.

Questionado pelos jornalistas, à porta do Palácio da Alvorada, sobre o motivo do encontro com a viúva do torturador, Bolsonaro disse Maria Joseíta foi a revisora do livro de Ustra e que está cheia de histórias para contar sobre as mulheres presas durante a ditadura militar.

“Tudo o que ela fez no tocante ao bom tratamento a elas [mulheres presas na ditadura], no tocante a enxoval, dignidade, parto. E ela conta uma história bem diferente daquela que a esquerda contou para vocês. Tem um coração enorme. Eu sou apaixonado por ela. Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer.”


O presidente da República tem o direito constitucional de manifestar livremente o seu pensamento, mas não pode querer que sua verdade seja a verdade maior. De igual modo não pode insistir no plano de mudar a história apenas porque suas convicções ideológicas não permitem aceitar a realidade e reconhecer a veracidade dos fatos.

Uma pessoa com “coração enorme” jamais endossaria as barbáries cometidas por alguém, não importando quem fosse, assim como se recusaria a revisar uma obra literária de um torturador. Afirmar que Maria Joseíta foi bondosa com as presas pelo regime militar é querer abusar do discernimento do cidadão.

Que Bolsonaro é movido pelo revanchismo ideológico o mundo já sabe, o que envergonha a extensa maioria dos brasileiros em qualquer parte do planeta, mas não se pode aceitar a tese de que Ustra é um herói nacional, tampouco concordar com a declaração de que a viúva do torturador tem bondade no coração. Se assim fosse, Maria Joseíta teria abdicado de tudo, inclusive do casamento, em nome da aludida bondade.

Em 2008, o coronel da reserva Brilhante Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado pela Justiça em uma ação declaratória por sequestro e tortura durante o mais trágico período da história nacional. Quatro anos mais tarde, em 2012, a sentença judicial de primeira instância foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

Ao afirmar que a obra “Verdade Sufocada”, escrito por Ustra, é seu livro de cabeceira, o presidente da República revela mais uma vez sua essência torpe e confirma o que o UCHO.INFO sempre afirma: Bolsonaro continua governando para uma minoria ensandecida e revanchista.