Pressionado pela extrema-direita, primeiro-ministro da Itália renuncia ao cargo e coloca fim ao governo

O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, renunciou ao cargo nesta terça-feira (20), afirmando, em discurso no Senado, sua intenção de informar em seguida o presidente italiano, Sergio Mattarella, sobre a decisão.

Conte atribuiu a culpa pelo fim do governo populista, que durou 14 meses, ao ministro do Interior e vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, um radical de direita que pode levar a Itália ao aprofundamento da crise.

“Estou dando fim aqui a essa experiência de governo”, disse Conte, chamando Salvini de “irresponsável” por provocar uma crise do governo.

O primeiro-ministro criticou severamente as recentes demandas de Matteo Salvini por uma eleição antecipada, para que, segundo ele, pudesse ganhar “plenos poderes” e conquistar o comando do governo.

Conte afirmou que o vice-premiê mostra “grave desprezo pelo Parlamento” e coloca a Itália em risco de “vertiginosa espiral de instabilidade política e financeira” nos próximos meses, criando uma crise desnecessária que derruba um governo em funcionamento.

Salvini, que permaneceu sentado ao lado de Conte, sorrindo às vezes enquanto o premiê discursava, começou o debate no Senado dizendo, desafiadoramente: “Eu faria tudo novamente”.


Pressionando por uma nova eleição o mais breve possível, Matteo Salvini, que enquanto ministro do Interior liderou repressão aos migrantes, disse: “Eu não temo o julgamento dos italianos”.

Tanto na eleição para o Parlamento Europeu na Itália, há três meses, quanto nas mais recentes pesquisas de opinião, a Liga de Salvini subiu em popularidade.

Salvini já havia afirmado no dia 8 de agosto que a coalizão governista, formada pelo partido Liga, de extrema direita, e o populista Movimento Cinco Estrelas (M5S), rachou e que o único caminho para solucionar o impasse seria realizar novas eleições.

A tensão na coalizão de governo veio à tona depois de o Senado derrotar uma moção apresentada pelo M5S visando acabar com um projeto de trem alta velocidade, financiado pela União Europeia (UE), que ligaria Turim à França. O projeto foi apoiado, porém, pela Liga, de Salvini.

A votação no Senado expôs o conflito entre as legendas, que há meses têm tido uma série de atritos. Segundo a imprensa italiana, antes do embate parlamentar, Salvini já havia imposto várias condições para a Liga permanecer no governo, incluindo a renúncias dos ministros do Transporte, Defesa e Economia.

O rompimento lança a terceira economia da zona do Euro num futuro político incerto. Antes de convocar novas eleições, o presidente italiano, Sergio Mattarella, deve primeiro verificar se o governo realmente perdeu apoio no Parlamento. (Com agências internacionais)