Em discurso no STF, Raquel Dodge pede proteção à democracia brasileira contra investidas totalitaristas

Enquanto o procurador Augusto Aras percorre o Senado Federal para garantir a aprovação do seu nome e assumir o comando da Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge, cujo mandato termina na próxima terça-feira (17), participou de sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira (12), pediu a atenção da Corte para as investidas contra a democracia e mandou um recado à sociedade brasileira, como um todo.

De forma transversa e inominada, Dodge estocou seu sucessor, que vem se rendendo às investidas do presidente da República para conseguir um disfarçado aparelhamento da PGR. Bolsonaro, que continua em cima do palanque e insiste no revanchismo ideológico e na divisão do País, disse, antes de indicar Aras, que o próximo procurador-geral deveria ficar longe da defesa das minorias e não poderia defender com veemência as demandas ambientais.

Em seu discurso de despedida, no plenário do STF, a procuradora-geral cobrou postura vigilante da Corte, pois, segundo Dodge, há no Brasil e no mundo “vozes contrárias ao regime de leis”.

“Faço um alerta para que fiquem atentos a todos os sinais de pressão sobre a democracia liberal, vez que no Brasil e no mundo surgem vozes contrárias ao regime de leis, ao respeito aos direitos fundamentais e ao meio ambiente sadio também para as futuras gerações. Neste cenário, é grave a responsabilidade do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal, seja para acionar o sistema de freios e contrapesos, seja para manter leis válidas perante a Constituição, seja para proteger o direito e a segurança de todos, seja para defender minorias”, disse Raquel Dodge.


“Quero lhes fazer um pedido muito especial, que também dirijo à sociedade civil e a todas as instituições: protejam a democracia brasileira, tão arduamente erguida, em caminhos de avanços e retrocessos, mas sempre sob o norte de que é o melhor modelo para construir uma sociedade de mais elevado desenvolvimento humano”, afirmou Dodge, ao pedir ao Supremo para que proteja a democracia no País.

À sombra de retórica conservadora e de que é preciso fazer valer a vontade da maioria, em detrimento dos direitos das minorias, Jair Bolsonaro busca criar uma barreira jurídica que impeça o avanço do combate à corrupção, o que contraria suas promessas de campanha. Até porque, o agora presidente usou os recentes escândalos de corrupção para anestesiar a opinião pública e conquistar o direito de se instalar no Palácio do Planalto.

No momento em que o presidente investe contra a PGR, mesmo que de maneira disfarçada, fica claro que sua intenção é fazer com que Augusto Aras não crie frentes de conflito com o Executivo federal, evitando investigações que porventura alcancem familiares e apaniguados. Isso já acontece em outros órgãos de fiscalização, como Polícia Federal, Coaf (rebatizado como Unidade de Inteligência Financeira) e Receita Federal.

No contraponto do discurso de que representava a nova política e que, se eleito, faria diferente, Bolsonaro é o que se conhece como “mais do mesmo”, pois suas decisões remetem à velha política, ao retrocesso, à supressão de liberdades e direitos e ao obscurantismo.

O discurso da procuradora-geral Raquel Dodge no STF reforça as afirmações do UCHO.INFO, que há muito alerta para fato de que em algum momento Bolsonaro tentaria aplicar um “cavalo de pau” na democracia brasileira, que precisa ser defendida com firmeza a persistência, pois não se pode aceitar os devaneios de um candidato a tiranete.