Brasil está a anos-luz da solução, mas o governo populista de Bolsonaro insiste na teoria do “faz de conta”

Quando o UCHO.INFO afirma que a solução para a extensa maioria dos problemas do País passa obrigatoriamente pela educação, muitos dos apoiadores do atual governo – se é que assim pode ser chamado – não demoram a reagir com ataques dos mais sórdidos e variados, começando pela enfadonha afirmação de que se trata de discurso esquerdista.

Apenas quem flerta com o retrocesso e não deseja o avanço da sociedade, como um todo, sem distinção de qualquer natureza, reage dessa maneira. É impossível sonhar com dias melhores em termos de nação sem contemplar os direitos do cidadão. E isso engloba também e principalmente o direito à educação de qualidade. O Brasil passa por momento ímpar em termos de país, mas o atual presidente insiste em acionar a manivela do revanchismo ideológico, como se fosse a senha para a solução.

A capacidade de investimento do governo não será recuperada antes de cinco anos, o que mostra que o brasileiro deve se acostumar com horizontes carrancudos por muito tempo. Quem analisa a peça orçamentária enviada pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional, no final de agosto, não demora a perceber que dias difíceis nos esperam.

Não se trata de torcer contra, mas de ser realista e pragmático diante dos fatos. Até porque, pelo que sabemos, em 2018 os brasileiros alçaram à Presidência da República um político tão oportunista quanto populista, não uma versão mambembe e tropical do Mágico de Oz. Antes que disparem críticas baseadas na “síndrome do retrovisor” (bom eram Lula e Dilma), nenhum dos que concorreram à Presidência, no ano passado, tinha condições de prometer qualquer coisa ao eleitorado. Essa posição ficou bem clara em nossas matérias sobre a corrida presidencial.

Para o próximo ano, a equipe econômica comandada por Paulo Guedes destinou R$ 19 bilhões para investimentos, montante ínfimo se comparado às premências nacionais. Isso significa que a geração de empregos terá de ser acompanhada de perto, já que não se tem conhecimento de que a Esplanada dos Ministérios abriga um operador de milagres.


Se o valor que restou para o governo investir é pouco – e realmente é –, alguém há de dizer que a saída é avançar no caminho das privatizações, o que exige, por parte do Estado e do governo, segurança jurídica e estabilidade política. E por enquanto essas “mercadorias” estão em falta no País.

No momento em que a Educação brasileira cambaleia à beira do precipício por conta do corte de verbas destinadas às universidades e do congelamento de bolsas de estudo, o governo aceitou de bom grado a ideia de dobrar o valor destinado ao chamado fundo eleitoral, que saltou de R$ 1,8 bilhão para R$ 3,7 bilhões.

Que o poder é inebriante todos sabem, assim como é de conhecimento público que aos políticos não interessa uma população bem instruída, até porque qualquer ser pensante há muito não cai na esparrela dos candidatos, muitos dos quais se apresentam aos eleitores como falsos salvadores da pátria.

Em jogo está a conquista de mais espaço nas esferas do Poder – Executivo e Legislativo –, o que garante a perpetuação de partidos políticos nas instâncias do Estado. O atual governo tenta levar adiante exatamente o que os atuais inquilinos do Palácio do Planalto criticaram em passado recente: a tentativa do PT de se perpetuar no Poder.

Quando um governante que dorme com uma ideia e acorda com outra, sendo que na sequência dispara um sem fim de impropérios, vai às redes sociais para fazer um balanço do governo, como se algo extraordinário tivesse ocorrido nos últimos meses, é porque a população está disposta a ser enganada ou perdeu a coragem para contestar e brigar por seus direitos.

Pensar o País no curto prazo, apenas porque faz-se necessário desfrutar dos eventuais dividendos, é um misto de egoísmo criminoso com miopia existencial. Ou o brasileiro aceita a ideia de que no momento são necessários sacrifícios para garantir o futuro das próximas gerações – isso exige seriedade, não populismo – ou brinca de faz de conta e acredita que do jeito que está é um passo para o Nirvana. É uma questão de escolha, não de conformismo.