Apesar do discurso nacionalista que fez na ONU, Trump economizou palavras ao criticar inimigos dos EUA

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump fez um discurso repleto de mensagens nacionalistas na 74ª Assembleia-Geral Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Durante mais de meia hora, o americano lançou ataques contra Venezuela, Cuba e China e denunciou o que chamou de políticas de “fronteiras abertas” que, segundo ele, favorecem a imigração ilegal.

“Se você quer liberdade, mantenha sua soberania e, se quiser paz, ame sua nação”, disse Trump. “O futuro não pertence aos globalistas. O futuro pertence aos patriotas. O futuro pertence a nações soberanas e independentes”, emendou.

Donald Trump discursou logo após Jair Bolsonaro, que também adotou fala nacionalista e agressivo, com direito a muitas críticas ao “globalismo”, termo pejorativo para instituições e tratados internacionais usado por movimentos da direita nacionalista.

O presidente americano fez críticas à ONU, mencionando com orgulho que seu governo se retirou em julho de um tratado internacional sobre comércio de armas patrocinado pela organização. “Não há nenhuma circunstância sob a qual os Estados Unidos permitirão que entidades internacionais atropelem os direitos de nossos cidadãos, incluindo o direito à legítima defesa”, disse.

“Durante anos, esses abusos foram tolerados, ignorados ou até incentivados”, continuou. “O globalismo exerceu uma influência religiosa sobre os líderes do passado, fazendo com que eles ignorassem seus próprios interesses nacionais. Mas, no que diz respeito aos EUA, esses dias acabaram.”

Logo no início de sua fala, Trump fez críticas ao governo da China, país com o qual tem travado perigosa e conturbada guerra comercial. “A China não apenas se recusou a adotar reformas prometidas, como adotou um modelo econômico dependente de enormes barreiras comerciais, pesados subsídios estatais, manipulação de moeda, dumping de produtos, transferências forçadas de tecnologia e roubo de propriedade intelectual”, disse.

O mandatário dos EUA não perdeu a viagem a Nova York e chamou o venezuelano Nicolás Maduro de “fantoche” do regime cubano. “O ditador Maduro é um fantoche cubano, protegido por guarda-costas cubanos, que se esconde do seu próprio povo, enquanto Cuba rouba a riqueza do petróleo da Venezuela para sustentar seu próprio governo comunista corrupto”, disse Trump.


O presidente estadunidense também dedicou tempo a um dos temas mais caros ao seu governo: a imigração ilegal. Ele disse que esse é um dos desafios “mais críticos” do mundo e acusou ONGs e defensores da liberdade de movimento dos migrantes de estarem ajudando traficantes de pessoas e redes criminosas.

Trump defendeu as “medidas sem precedentes” que estão sendo tomadas por seu governo para combater a imigração ilegal. Ainda no tema, mandou uma mensagem direta àqueles que pretendem entrar nos EUA sem usar procedimentos legais.

“Escute estas palavras: não pague a traficantes, não pague a coiotes, não se coloque em risco, não coloque suas crianças em risco. Porque, se chegar aqui, não será permitido que entre, você vai voltar rapidamente para casa e não será colocado em liberdade no país”, ameaçou. “Enquanto eu for presidente dos Estados Unidos, vamos aplicar as nossas leis e proteger as nossas fronteiras”, completou.

Ao citar o Irã em seu discurso, Trump disse que “todas as nações têm o dever de agir” e que “nenhum país deve subsidiar o comportamento sanguinário do Irã”, fala que abriu caminho para defender a imposição de mais sanções ao governo de Teerã.

No contraponto, o americano evitou usar o mesmo tom agressivo que membros do seu governo haviam adotado contra o regime iraniano no âmbito do ataque às instalações petrolíferas sauditas em 14 de setembro.

Há dez dias, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, classificou a ação de “um ato de guerra” patrocinado pelo Irã. Contudo, Trump não apenas evitou repetir a frase de Pompeo, mas foi econômico nas manifestações de apoio à ditadura saudita, que se esconde sob os mistérios e o folclore de uma realeza que mata sem pestanejar os adversários do governo de Riad.

O republicano afirmou que “muitos de nossos amigos de hoje já foram nossos maiores inimigos” e que “os Estados Unidos nunca acreditaram em inimigos permanentes”. “O objetivo da América não é travar essas guerras sem fim, guerras que nunca terminam”, acrescentou.

Trump mente de forma desavergonhada ao afirmar que não busca conflitos com outras nações, pois há dias foi aconselhado por integrantes do seu staff a não optar por um confronto bélico com o Irã, principalmente porque as consequências são imprevisíveis e poderiam impactar na sua tentativa de reeleição. (Com agências internacionais)