Impeachment nos EUA: Casa Branca tentou esconder conversas entre Trump e presidente da Ucrânia

Se a situação de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, não era considerada boa por conta do escândalo “Kievgate”, a partir desta quinta-feira (26) ficou muito pior. Trump, que usou o poder do cargo para pressionar o governo ucraniano no âmbito de uma investigação de encomenda sobre um adversário político, o democrata Joe Biden, pode ter problemas sérios com o Congresso norte-americano, que já abriu processo de impeachment.

O movimento da Câmara dos Representantes para eventualmente cassar o mandato de Donald Trump pode tropeçar no Senado, onde o inquilino da Casa Branca tem maioria, mas o processo em si tem potencial suficiente para causar danos ao plano de reeleição do atual presidente dos EUA.

Nesta quinta-feira, a Comissão de Inteligência da Câmara divulgou a íntegra do texto que pode culminar com o impeachment de Trump. A divulgação ocorre após tornar-se público conteúdo da conversa telefônica entre líder americano e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski.

O secretário de Justiça dos EUA (e procurador-geral), William Barr, e o advogado e ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, que defende o presidente americano, tiveram participação direta na tentativa de esconder a manobra ilegal para convencer o governo ucraniano a iniciar investigação sobre o rival democrata.

O texto ressalta que o denunciante, não identificado, obteve informações junto a várias fontes do governo dos EUA de que “autoridades da Casa Branca intervieram para ‘bloquear’ todos os registros da ligação (entre Trump e Zelenski), principalmente a transcrição oficial palavra por palavra da chamada que foi produzida, como é habitual, pela Sala de Situação da Casa Branca”.

“Esse conjunto de ações enfatizou para mim que os funcionários da Casa Branca entenderam a gravidade do que aconteceu na ligação”, traz a denúncia em determinado trecho.


De acordo com a denúncia, várias autoridades da Casa Branca teriam ficado “profundamente perturbadas” com o que ouviram no telefonema entre os presidentes americano e ucraniano, enfatiza o documento.

“Me disseram que havia uma discussão em andamento com advogados da Casa Branca sobre como tratar a ligação por causa da probabilidade de terem testemunhado o presidente abusar de seu gabinete para obter ganhos pessoais”, afirmou o denunciante.

O denunciante também afirmou que diversas autoridades do governo relataram que um segundo contato entre Trump e Zelenski dependeria da disposição do presidente ucraniano de “fazer sua parte” na investigação do democrata Joe Biden (foi vice de Barack Obama) e de seu filho, Hunter Biden.

“No curso de minhas funções oficiais, recebi informações de vários funcionários do governo dos EUA de que o Presidente dos Estados Unidos está usando o poder de seu escritório para solicitar interferência de um país estrangeiro nas eleições de 2020 nos EUA”, escreveu o denunciante na queixa registrada em 12 de agosto.

Tão logo o “Kievgate” veio à tona, Donald Trump se apressou em afirmar que a conversa com o líder da Ucrânia nada tinha de comprometedor, pois o telefonema serviu para cumprimentar Zelenski pela vitória eleitoral no país do leste europeu. Acontece que, após o mencionado cumprimento, a conversa rumou para o campo da ilegalidade. E o presidente do EUA terá de dar explicações razoavelmente convincentes, caso queira continuar no cargo.

Não se pode esquecer que no escopo do escândalo “Watergate”, o então presidente Richard Nixon renunciou ao cargo, em 9 de agosto de 1974, para evitar ser despejado da Casa Branca na esteira de um processo de impeachment.