Sem provas, Ricardo Salles insinua que Greenpeace é responsável por manchas de óleo no litoral do NE

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, voltou a atacar o Greenpeace, uma das principais ONGs ambientais do planeta. Sem apresentar qualquer prova, Salles insinuou, em mensagem no Twitter, que a organização pode estar por trás das manchas de óleo que atingem o litoral do Nordeste desde o início de setembro.

“Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…(sic)”, escreveu o ministro.

Na postagem, o ministro também publicou uma foto do navio Esperanza, do Greenpeace, dando a entender que a foto é atual. Porém, a imagem usada por Salles é de 2016 e foi tirada no Oceano Índico.

Essa é a segunda vez em três dias que o ministro do Meio Ambiente usa as redes sociais para fazer insinuações – sem provas – contra o Greenpeace. Na terça-feira (22), Ricardo Salles já havia divulgado a versão editada de um vídeo originalmente publicado pelo Greenpeace Brasil, sugerindo que o a ONG não estava atuando nos esforços de combate ao óleo que alcançou mais de duzentas praias do Nordeste.

O vídeo publicado por Salles, porém, era mais curto que o original e suprimia um trecho em que um porta-voz falava claramente que voluntários do Greenpeace estavam atuando na limpeza das praias.
Na quarta-feira, Salles também chamou os membros da ONG de “ecoterroristas” após o grupo organizar um protesto em frente ao Palácio do Planalto.

O Greenpeace, assim como outras ONGs e governadores do Nordeste, vem criticando o governo Bolsonaro pela demora e falta de ações efetivas para conter o desastre ambiental. Salles só acionou o Plano Nacional de Contingência do governo federal, diretriz criada em 2013 para situações de emergência, como a do vazamento de óleo, 41 dias após surgirem surgido as primeiras manchas de petróleo no litoral nordestino.

O departamento responsável por definir estratégias para emergências ambientais no Ministério do Meio Ambiente ficou sem chefe por seis meses ao longo deste ano. O cargo de direção do Departamento de Qualidade Ambiental e Gestão de Resíduos só foi ocupado 35 dias depois do início da tragédia ambiental no litoral nordestino.


Ao insinuar que o Greenpeace teria alguma relação com as manchas de óleo, Salles adotou tática similar ao do presidente Jair Bolsonaro, que em agosto afirmou – também sem provas – que ONGs estariam por trás das queimadas que ardiam a Amazônia. À época, Bolsonaro também estava sendo alvo de críticas pela falta de ação para conter o desmatamento e o fogo.

Em nota, o Greenpeace afirmou que pretende tomar “medidas legais cabíveis” contra o ministro. “As autoridades têm que assumir responsabilidade e responder pelo Estado de Direito pelos seus atos”, disse a ONG.

É importante ressaltar que o presidente da República foi instado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dar explicações sobre sua declaração. Como de costume, Bolsonaro agarrou-se à covardia e alegou que seu “discurso foi político”.

Para piorar a situação cada vez mais difícil de Ricardo Salles, o Greenpeace apontou que o navio Esperanza “faz parte de uma campanha internacional chamada ‘Proteja os Oceanos”, que saiu do Ártico e vai até a Antártida ao longo de um ano, denunciando as ameaças aos mares. A ONG também revelou que a embarcação passou pela Guiana Francesa, entre agosto e setembro, onde realizou expedição de documentação e pesquisa do sistema de recifes da Amazônia.

Segundo o Greenpeace, a embarcação não tem capacidade para armazenar e transportar uma carga de centenas de toneladas de petróleo. Segundo a Marinha, na última segunda-feira (21) já haviam sido retiradas no litoral nordestino 900 toneladas de óleo cru.

“Enquanto o óleo continua atingindo as praias do Nordeste, o ministro Ricardo Salles nos ataca fazendo insinuações sobre o desastre ecológico. Trata-se, mais uma vez, de criar uma cortina de fumaça na tentativa de esconder a incapacidade de Salles em lidar com a situação. É bom lembrar que isso vem de alguém conhecido por mentir que estudava em Yale e ser condenado na Justiça por fraude ambiental”, ressaltou a ONG.

A insinuação de Salles ainda rendeu uma reprimenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em mensagem no Twitter, Maia escreveu ao ministro: “Estamos esperando uma posição oficial do Ministério do Meio Ambiente”.

Pouco depois, Salles respondeu baixando amenizando a insinuação, desta vez afirmando, novamente sem provas, que o navio do Greenpeace “não (sic) se prontificou a ajudar” quando passou pelo litoral do Nordeste. Rodrigo Maia agradeceu, mas destacou que a postagem do ministro fez “uma ilação desnecessária”. (Com Deutsche Welle)