Milhares de pessoas compareceram ao funeral do general iraniano Qasem Soleimani neste sábado (4) em Bagdá, que contou com a presença de autoridades do governo do Iraque e de vários membros de milícias pró-Irã no país.
Soleimani foi morto em um ataque americano com um drone que atingiu o veículo em que estava nas imediações do aeroporto de Bagdá. A morte do comandante, considerado por muitos como a segunda pessoa mais poderosa do Irã, gerou uma onda de choque e elevou as tensões no Oriente Médio.
O ataque americano também matou outros membros de milícias iraquianas, entre estes Abu Mehdi al-Muhandis, líder do grupo Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi]. Os corpos de Soleimani e das demais vítimas do ataque americano foram transportados em veículos militares em uma procissão liderada por milicianos, que levavam bandeiras e símbolos de grupos armados apoiados pelo Irã.
Soleimani, de 62 anos, era líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior.
A Força Quds apoia, por exemplo, grupos que atuam à margem do Estado em muitos países do Oriente Médio, como o Hezbollah libanês, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, os Houthis no Iêmen e milícias xiitas no Iraque, Síria e Afeganistão.
O comandante era tido como o arquiteto da política externa de Teerã para a região. Ele atuou na coordenação das operações iranianas na guerra contra os extremistas do “Estado Islâmico” (EI) e também era acusado de planejar ataques a tropas americanas e aliadas desde a primeira invasão do Iraque, em 2003.
O primeiro-ministro iraquiano, Adil Abdul-Mahdi, também esteve presente no funeral, onde a multidão entoava frases como “morte à América” e gritos de protesto contra Israel. A procissão contou com forte aparato de segurança reforçado pela presença de dois helicópteros militares.
O funeral teve início na mesquita de Imam Kadhim, um dos locais mais reverenciados pelos muçulmanos xiitas, e se encaminhou para a chamada Zona Verde, que abriga diversas embaixadas e representações de países estrangeiros – inclusive dos Estados Unidos – onde foi realizada uma cerimônia oficial.
A procissão seguiria para a cidade sagrada xiita de Kerbala e se encerraria em Najaf, onde os corpos dos iraquianos mortos no ataque serão enterrados.
O corpo de Soleimani será transportado para a província iraniana do Khuzistão, na fronteira com o Iraque e, no domingo, para a cidade sagrada de Mashhad, no nordeste do país, antes de passar por Teerã e chegar a Kerman, cidade natal do comandante. Segundo relatos da imprensa iraniana, ele deverá ser enterrado na terça-feira.
O ataque de sexta-feira, autorizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resultou num inevitável acirramento das tensões entre Teerã, Washington e seus aliados, como Israel e Arábia Saudita.
Trump justificou a decisão dizendo que a intenção do ataque seria para impedir uma guerra, não para iniciá-la. “Não buscamos uma mudança no regime [do Irã]. No entanto, as agressões do regime iraniano na região, incluindo o uso de combatentes para desestabilizar seus vizinhos, devem acabar e devem acabar agora”, acrescentou.
Sem apresentar qualquer tipo de prova, o presidente afirmou que Soleimani estava planejando “ataques iminentes” contra militares e diplomatas americanos.
Os EUA anunciaram que vão enviar mais 3 mil militares para o Oriente Médio. O Pentágono também colocou em alerta uma brigada na Itália que poderá se deslocar para o Líbano para proteger a embaixada americana no país.
Apesar de Trump anunciar o fim do “reino de terror” com a morte de Soleimani, o envio de reforço militar para região reflete a preocupação com possíveis consequências.
Irã promete vingança
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ameaçou os EUA com “duras retaliações” pela morte de Soleimani. O Hezbollah prometeu que a resposta do que chamou de “eixo de resistência” na região – formado por um grupo de países que incluem o Líbano e o Iêmen – será decisiva, e disse que “os americanos serão punidos onde quer que estejam ao alcance de Teerã”.
O Iraque, aliado tanto de Teerã quanto de Washington, condenou o ataque contra Soleimani em seu território, que considerou um atentado à sua soberania. O governo iraquiano está sob forte pressão para expulsar o contingente de 5,2 mil soldados americanos estacionados no país com o objetivo de impedir um ressurgimento do EI.
Diversos países em todo o mundo, incluindo Alemanha, França e outros aliados dos EUA, alertaram que a morte de Soleimani poderá gerar uma escalada perigosa das tensões na região e pediram que todas as partes envolvidas ajam com moderação.
As hostilidades entre Teerã e Washington aumentaram na semana passada após atos de violência contra a embaixada americana em Bagdá, durante uma manifestação de grupos xiitas pró-Irã. O protesto ocorreu em razão de um ataque americano ao grupo armado Kataib, ligado ao Hezbollah, que matou 25 milicianos.
O ataque que gerou os protestos havia sido uma resposta à morte de um empreiteiro americano no norte do Iraque, atribuída por Washington à milícia iraquiana. O Kataib foi fundado por Muhandis, líder miliciano morto no ataque contra Soleimani.
A embaixada americana em Bagdá ordenou a todos os cidadãos dos EUA no Iraque que deixassem imediatamente o país. Dezenas de funcionários americanos de empresas petrolíferas estrangeiras já havia deixado a cidade de Basra na sexta-feira. (Com agências de notícias)