Washington e Teerã elevaram o tom das ameaças recíprocas após o acirramento das tensões entre os dois países, provocado pela morte do general iraniano Qasem Soleimani em bombardeio em Bagdá ordenado pelo presidente Donald Trump.
O presidente dos Estados Unidos afirmou no sábado (4) que seu país já possui 52 alvos definidos no território iraniano, caso as promessas de retaliação por parte de Teerã se confirmem.
Soleimani, que comandava a poderosa Força Quds, tropa de elite da Guarda Revolucionária iraniana, era tido como o arquiteto da política externa do Irã e considerado por muitos como a segunda pessoa mais poderosa do país. Sua morte gerou uma onda de choque no Oriente Médio que deixou em alerta os países da região, assim como os aliados americanos no Ocidente.
O ataque que matou o general iraniano foi justificado por Trump como um ato de legítima defesa. Sem apresentar provas, o presidente dos EUA afirmou que Soleimani preparava atentados contra alvos americanos, e que o ataque que causou a morte do general iraniano foi para impedir uma guerra, não para iniciá-la.
Como era de se esperar, as reações à morte de Qasem Soleimani foram carregadas de novas ameaças aos EUA. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ameaçou os EUA com “duras retaliações”. O libanês Hezbollah, grupo também apoiado pela Força Quds, prometeu uma resposta dura e decisiva, ressaltando que “os americanos serão punidos onde quer que estejam ao alcance de Teerã”.
O funeral do comandante iraniano em Bagdá foi marcado por protestos contra os EUA, enquanto aumenta a pressão para que o governo do Iraque se afaste da influência americana, o que deixaria o país ainda mais próximo de Teerã.
Trump reagiu às ameaças de retaliação por parte do Irã dizendo que seu país já possui um plano de ataque definido. Em uma série de postagens no Twitter, o presidente criticou a “ousadia” dos iranianos ao prometerem vingança e assegurou que haverá duras reações em caso de novas agressões.
“Se o Irã atacar americanos ou patrimônios americanos, já estabelecemos 52 locais iranianos como alvos (representando os 52 reféns americanos sequestrados pelo Irã há muitos anos), alguns de alto nível e de importância para o Irã e para a cultura iraniana”, escreveu Trump.
Ele disse que o país será atingido de modo “muito rápido e muito forte”. “Os EUA não querem mais ameaças”, afirmou, acrescentando que seu país utilizará equipamento militar “lindo e novinho em folha” no caso de uma retaliação iraniana.
O chefe do Exército da República Islâmica do Irã, o major-general Abdolrahim Mousavi, reagiu às declarações de Trump afirmando que os EUA não ousariam iniciar um conflito com seu país. “Não acho que eles teriam a coragem”, afirmou.
Através do Twitter, o ministro iraniano das Comunicações e Tecnologia da Informação, Javad Azari-Jahromi, descreveu Trump como um “terrorista de terno”, comparando as ameaças do presidente americano à cultura do país com as atitudes do grupo extremista “Estado Islâmico”, do líder nazista Adolf Hitler e do conquistador Gengis Khan.
UE tenta preservar acordo nuclear
O chefe da política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, convidou o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, para conversações em Bruxelas, em clara tentativa de apaziguar a situação.
Em nota, Borrell disse que uma solução política seria o “único caminho a seguir” e ressaltou a importância de se manter o acordo nuclear de 2015, assinado entre o Irã e o grupo G5+1 (França, Reino Unido, Alemanha, China, Rússia e Estados Unidos). O governo americano se retirou do pacto em 2018, restabelecendo pesadas sanções econômicas contra Teerã.
Borrell ressaltou a importância de se manter a “unidade dos participantes remanescentes no apoio ao acordo e sua total implementação por todas as partes”. Recentemente, o Irã realizou uma série de violações, inclusive com o enriquecimento de urânio acima dos níveis permitidos pelo tratado.
Neste domingo (5), um porta-voz do Ministério iraniano do Exterior disse que o país dará um novo passo em seu distanciamento do acordo nuclear, e que as novas medidas deverão ser ainda mais significativas do que as anteriores. “No mundo da política, todos os acontecimentos estão interconectados”, afirmou. (C0m agências internacionais)