Entre o bombardeio americano que matou o general iraniano Qasem Soleimani e a reação do governo de Teerã ao apoio do Itamaraty à investida de Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro oscilou entre confirmar a posição da chancelaria verde-loura e o recuo seguido de silêncio. Essa oscilação se explica pelo fato de o Irã ser um importante parceiro comercial do Brasil, importando anualmente US$ 2 bilhões em produtos do agronegócio, como milho, por exemplo (é responsável por adquirir 305 da safra do grão).
Nesta quarta-feira (8), Bolsonaro, em nova demonstração de subserviência à Casa Branca, fez transmissão ao vivo na internet, enquanto assistia ao pronunciamento de Trump sobre a crise no Oriente Médio. Durante a transmissão nas redes sociais, o presidente da República voltou a falar em terrorismo, como se o Brasil não seguisse as balizas da ONU para reconhecer organizações terroristas.
Antes da mais recente “declaração de amor” de Bolsonaro a Trump, o Itamaraty cancelou reunião que a encarregada de negócios da embaixada do Brasil em Teerã, Maria Cristina Lopes, teria nesta quarta-feira (8) na chancelaria do país persa. O objetivo do encontro era discutir temas da cooperação cultural entre os dois países.
Apesar de a reunião ter sido agenda antes da investida americana que matou o general Soleimani, o Itamaraty recomendou à diplomata brasileira o cancelamento do encontro, com pedido de reagendamento.
O encontro em Teerã ocorreria dias após os governos brasileiro e iraniano terem discordado sobre o bombardeio dos EUA que assassinou o então chefe da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã.
Por um lado, o Irã condenou o assassinato de Soleimani como um ato ilegal, talvez um crime de guerra, enquanto o Brasil, por outro, afirmou que a operação se justifica pela necessidade de apoiar a “luta contra o flagelo do terrorismo”.
Maria Cristina Lopes substitui momentaneamente, no comando da representação diplomática em Teerã, o embaixador Rodrigo Azeredo, que está de férias no Brasil e se recupera de um problema de saúde. O ministro Ernesto Araújo, um dos sabujos de plantão do governo Bolsonaro, preferiu aguardar o retorno de Azeredo ao país persa para dar sequência às conversações com os iranianos.
No âmbito diplomático é possível que não ocorra qualquer decisão radical de parte a parte, mas o governo brasileiro não pode apostar todas as fichas na manutenção das relações comerciais no status atual. Até porque, se Bolsonaro tem o direito de empunhar sua cangalha ideológica, Ali Khamenei também tem, em que pese a necessidade de se chegar a um acordo para selar a paz na região.