Bolsonaro foi à praia em Salvador e à lotérica no DF, mas desiste de ir a Davos por questões de segurança

Quando, durante a corrida presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirmava – e continua afirmando – que Jair Bolsonaro não reunia condições (competência e estofo) para ocupar a Presidência da República, seus apoiadores, como enfurecida manada, reagiam com ódio e descontrole, sempre avessos a aceitar o óbvio e ululante.

Eleito dentro das regras democráticas, apesar de alguns questionamentos em relação a estratégias de campanha, Bolsonaro vem comprovando nossas previsões, pois sua trajetória parlamentar não deixa dúvidas a respeito do que esperar de um político populista, adepto da fanfarronice direitista e que sempre frequentou o chamado “baixo clero” no Congresso Nacional.

Sem ter mostrado até o momento a que veio e atendendo apenas aos interesses de grupos econômicos que o apoiaram na campanha eleitoral, Jair Bolsonaro continua vendo sua popularidade na curva do declínio, algo que remete aos tempos de Fernando Collor de Mello, que acabou despejado do Palácio do Planalto por tratar a classe política à base de botinadas.

Ciente de que nada tem a dizer no Fórum Econômico Mundial, pois há muito deixou de ser uma novidade e suas promessas mambembes não mais convencem, o presidente brasileiro cancelou sua participação no evento que ocorrerá no final de janeiro na belíssima e fria Davos, na Suíça. O anúncio da desistência foi feito na quarta-feira (8), pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros.

“Está cancelada a ida do presidente, falei com ele há pouco. As razões para o cancelamento por parte do presidente são aquelas que já estamos esboçando há tempos”, declarou Rêgo Barros.

Na última segunda-feira (6), Bolsonaro sinalizou que poderia não ir ao Fórum de Davos, alegando, sem entrar em detalhes, que “o mundo tem seus problemas, questão de segurança”. De igual modo, o porta-voz valeu-se de argumentos frágeis para justificar a ausência do presidente brasileiro no encontro.

“O presidente e os assessores analisaram uma série de aspectos: aspectos econômicos, aspectos de segurança, aspectos políticos. E o somatório desses aspectos, quando levados à apreciação do presidente, lhe permitiu avaliar que não seria o caso, neste momento, de participar desse fórum”, afirmou Rêgo Barros.

Falar em questões de segurança para justificar o cancelamento da participação de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial é no mínimo falta de imaginação da assessoria palaciana, que poderia ter escrito um enredo menos falacioso do que o apresentado aos jornalistas que cobrem o cotidiano da sede do governo federal.

Bolsonaro é um incompetente declarado e conhecido que recorre ao populismo barato para disfarçar suas deficiências. Para provar que a questão da segurança não é justificativa para cancelar sua participação no fórum de Davos, Bolsonaro, em 29 de dezembro passado, estava em Salvador e deixou-se fotografar ao lado de populares em uma praia da capital baiana, após uma pescaria. A questão não é colocar em xeque a idoneidade dos soteropolitanos, mas considerando que Bolsonaro está longe de ser unanimidade nacional, é mais fácil ele ser alvo de um atentado na praia do que em Davos.

Outro episódio que reforça a falácia palaciana envolve a decisão tomada por Jair Bolsonaro, em 26 de dezembro, para apostar na Mega-Sena. Naquele data, antes de embarcar para a Base Naval de Aratu, na Bahia, o presidente foi a uma casa lotérica de Brasília para aposta na “Mega da Virada”. Também na casa lotérica era mais fácil Bolsonaro ser vítima de um atentado do que na cidade suíça que recepcionará o Fórum Econômico Mundial.

Conhecendo as limitações de Jair Bolsonaro, a decisão de não participar do Fórum de Davos é um alívio considerável para os brasileiros de bom senso, pois assim o vexame será menor.