Após eclodir na China, surto de coronavírus já é considerado ameaça à economia global

O surto de coronavírus, que se espalha rapidamente por todas as regiões da China e já desembarca em outros países, tem abalado os mercados globais, enquanto investidores e governantes avaliam os riscos que a doença representa para a economia global.

Com o número de mortes chegando a 170 e mais casos sendo registrados a cada dia, as Bolsas de Valores dos maiores centros financeiros registram quedas consecutivas, colocando na berlinda ações de companhias de destaque nos mais distintos setores econômicos.

“Os mercados permanecerão altamente voláteis enquanto sentirem que têm apenas uma imagem incompleta do que está acontecendo e do que acontecerá a seguir”, afirma Agathe Demarais, diretora de previsões globais da empresa Economist Intelligence Unit.

A China, epicentro do surto, é a segunda maior economia do planeta e tem um papel fundamental nas cadeias de suprimentos globais. Por isso, qualquer coisa que mexe com o país asiático tem potencial para afetar a economia mundial.

“A China é muito importante na economia global. E quando a economia chinesa desacelera, sentimos isso”, disse Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.

Zhang Ming, economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, projetou que o surto pode reduzir o crescimento da China no primeiro trimestre em um ponto percentual, para 5% ou menos.

Grandes empresas se preparam para interrupções

Até agora, o surto causou interrupções somente limitadas na cadeia de suprimentos, já que muitos estabelecimentos já estavam fechados para o feriado do Ano Novo chinês. Mas há preocupações crescentes de que fábricas possam permanecer fechadas por mais tempo do que o habitual.

Também há temores sobre eventuais danos à produtividade, já que milhares de operários podem ter dificuldade para voltar ao trabalho na próxima semana, devido a restrições de viagens impostas pelo governo chinês.

O surto tem sido um dos principais pontos de discussão nas divulgações de resultados trimestrais das companhias nesta semana. Somente nos Estados Unidos, a palavra “vírus” ou “coronavírus” foi mencionada por 27 empresas diferentes, incluindo Apple, Starbucks e McDonald’s, conforme uma análise da rede americana CNBC.

A Apple, que registrou ganhos recordes na terça-feira, forneceu recomendações mais amplas para o trimestre em andamento diante da incerteza em torno do impacto do vírus. Praticamente todos os iPhones, principal fonte de lucro da companhia, são fabricados na China.

A Tesla espera um atraso no aumento da produção em sua fábrica recém-inaugurada em Xangai. Já a fabricante alemã de autopeças Robert Bosch monitora a situação para avaliar se haverá atrasos no reinício da produção em suas duas instalações de Wuhan, que estão fechadas.

A Toyota do Japão também interrompeu a produção na China até 9 de fevereiro. McDonalds e Starbucks fecharam centenas de lojas no país. A varejista sueca de móveis Ikea disse que fechará todas as suas 30 lojas chinesas “até novo aviso”, em resposta ao surto.

Várias companhias aéreas suspenderam voos para a China, incluindo Lufthansa, British Airways, Air Canada e American Airlines, o que comprometerá não apenas o setor de turismo, mas também o consumo.

“Além do risco para a vida humana, é provável que atinja atividades de viagens e consumo. Em um cenário de infecção generalizada, isso pode enfraquecer materialmente o crescimento econômico e as posições fiscais dos governos na Ásia”, afirmou a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P).

Impacto maior que a Sars

Analistas do mercado financeiro internacional já comparam o surto atual com a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), também causada por um coronavírus e que matou cerca de 800 pessoas entre 2002 e 2003.

O custo global da Sars, que também começou na China e se espalhou para outros países, foi estimado em US$ 33 bilhões, equivalente a 0,1% do PIB mundial em 2003. Muitos afirmam que o impacto do novo coronavírus no crescimento global pode ser ainda maior, já que hoje a China representa uma parcela mais relevante da economia global. (Com agências internacionais)