Em nova demonstração de subserviência aos EUA, Bolsonaro apoia plano de Trump para o Oriente Médio

Em nova e clara demonstração de subserviência à Casa Branca, o que configura desprezo generalizado à política externa brasileira, o governo de Jair Bolsonaro declarou apoio ao plano de paz proposto por Donald Trump para o Oriente Médio, que privilegia os israelenses e debocha dos palestinos. A nota de apoio do governo brasileiro foi divulgada na quarta-feira (29) pelo Itamaraty, causando preocupação na diplomacia nacional.

Apesar de a inciativa do governo Trump ter sido rechaçada pelos palestinos, escandalosamente excluídos do processo de elaboração do plano de paz, o governo brasileiro considerou que a estratégia americana “visa à convivência pacífica e viável, tanto do ponto de vista de segurança quanto territorial e econômico” e “constitui um documento realista e ao mesmo tempo ambicioso”.

A estratégia prevê a solução de dois Estados, com a Palestina sendo reconhecida pelos EUA como país soberano, mas, em contrapartida, os israelenses sairiam favorecidos em todos os pontos de atrito entre os dois lados. O plano apresentado por Trump prevê Jerusalém como “capital indivisível” de Israel, o que contraria decisão da ONU, e o reconhecimento de assentamentos israelenses na Cisjordânia. Além disso, está prevista a recusa do direito de retorno de palestinos refugiados a regiões perdidas para Israel, entre outros pontos.

Caso aceitem essas condições, os palestinos receberiam US$ 50 bilhões em investimentos nos próximos dez anos, além da conexão de seus territórios por túneis com trens de alta velocidade. A soberania do Estado palestino, porém, seria limitada a territórios desmilitarizados sob controle israelense.

Israel ganharia uma nova fronteira com a anexação do vale do rio Jordão, o que deixaria o território palestino cercado por todos os lados. O plano estabelece um cronograma de quatro anos para que a Palestina chegue a um acordo de segurança com Israel. Nesse período, os palestinos deveriam suspender os ataques do grupo islâmico Hamas e estabelecer a capital de seu Estado na cidade de Abu Dis, a leste de Jerusalém.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, rejeitou as propostas e fez duras críticas ao plano de Trump para a região. “Jerusalém não está à venda, nossos direitos não estão à venda e não serão barganhados e seu acordo, essa conspiração, não passará”, afirmou.

Para o líder palestino, em vez de se tratar de “o acordo do século”, como disse Trump no anúncio da proposta de paz, o plano americano seria, na verdade, “o tapa na cara do século”. Netanyahu, por sua vez, elogiou a estratégia, até porque o israelense precisava desse factoide para chegar forte a mais uma conturbada eleição, apesar de estar encalacrado em graves denúncias de corrupção.

De acordo com a nota divulgada pelo Itamaraty, o plano americano satisfaz as “aspirações tanto de palestinos quanto de israelenses, incluindo aspectos fundamentais, como a erradicação do terrorismo, a existência do Estado de Israel com segurança para sua população, o estabelecimento de um Estado palestino democrático e comprometido com a paz, a viabilidade territorial, e a criação das condições econômicas indispensáveis para uma grande elevação do bem-estar do povo palestino”.

“Trata-se de iniciativa valiosa, que, com a boa-vontade de todos os envolvidos, permite vislumbrar a esperança de uma paz sólida para israelenses e palestinos, árabes e judeus, e para toda a região”, ressaltou o governo brasileiro no comunicado.

A nota acrescenta que o plano de paz “se afigura compatível com os princípios constitucionais que regem a atuação externa do Brasil, notadamente a defesa da paz, o repúdio ao terrorismo e a autodeterminação dos povos”.

A falta de visão do governo Bolsonaro no âmbito da política externa beira as raias do despreparo e da preocupação, pois em jogo estão não apenas as relações do Brasil com nações estrangeiras, mas as exportações para países do Oriente Médio, em sua maioria não alinhados à Israel. Não é preciso dose extra de inteligência para saber que uma declaração de apoio ao plano de Trump é um tiro no pé. Basta acessar os dados sobre as exportações brasileiras para o Oriente Médio e checar o percentual que Israel representa no todo.

Que Jair Bolsonaro coloca-se em posição genuflexa, gratuitamente, diante de Trump é de conhecimento de todos, mas o presidente brasileiro que trate sua desmedida sabujice no divã do psicanalista mais próximo, pois é inaceitável arriscar a posição do Brasil no cenário do comércio internacional apenas para alimentar um revanchismo ideológico que beira a delinquência intelectual.