Movido pela frouxidão, Bolsonaro exonera de novo o exonerado que foi reacomodado na Casa Civil

Separados na maioria das vezes por algumas poucas horas, os vexatórios avanços e recuos do presidente Jair Bolsonaro são a marca registrada de um governo perdido e marcado pelo populismo barato e pela incompetência avassaladora. Esse cenário de incertezas que só crescem não é novidade para os que seguem o jornalismo independente do UCHO.INFO, pois avisamos em reiteradas ocasiões que o atual presidente da República é, como sempre foi, um despreparado para cargo de tamanha responsabilidade e relevância.

Frouxo em suas decisões e sempre deixando se influenciar por restrito núcleo de assessores ideológicos e pelos filhos, Bolsonaro protagonizou nas últimas horas mais um espetáculo pífio de um governo que derrete desde o primeiro dia. Após exonerar o então secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, com direito a discurso moralista e visceral sobre o uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pelo servidor em viagem à Índia, Bolsonaro renomeou o auxiliar para novo cargo na mesma pasta, atendendo a um pedido dos filhos Flávio e Eduardo.

Santini, que é amigo de infância do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi contemplado com o cargo de assessor especial de relações externas da Casa Civil, com um salário muito próximo ao que recebia na antiga função. Ou seja, após ter adotada prática considerada “imoral” pelo presidente, Santini foi presenteado com novo posto em uma pasta cada vez mais esvaziada em termos práticos e políticos.

Na condição de número 2 da Casa Civil, cargo de natureza especial, Vicente Santini recebia mensalmente salário bruto de R$ 17.327,65. No novo cargo, de categoria DAS 102.6, a remuneração prevista seria de R$ 16.944,90 (R$ 382,75 a menos). Resumindo, para quem transgrediu a ética, o novo posto deveria ser considerado como prêmio de loteria.

Se ao longo da quarta-feira (29) o presidente foi pressionado pelos filhos para sacar Santini do cadafalso da exoneração, durante a madrugada desta quinta-feira (30) a pressão veio das redes sociais, onde adversários e apoiadores se uniram na indignação diante da renomeação do exonerado.

Em sua conta no Twitter, Bolsonaro anunciou que a nova nomeação de Vicente Santini será anulada, decisão a ser publicada no Diário Oficial desta quinta. Também decidiu o presidente da República exonerar o interino da Casa Civil, Fernando Moura, que substituiu Santini no cargo e em termos práticos foi responsável pela nomeação do antecessor para o novo posto. Toda essa mudança acontece no momento em que o titular da pasta, Onyx Lorenzoni, está em viagem de férias.

“Informo que em Diário Oficial será publicado: Tornar sem efeito a admissão do servidor Santini”, escreveu o presidente em sua conta no Twitter. Bolsonaro também decidiu “passar a PPI da Casa Civil para o Ministério da Economia”.

O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), criado em 2017 na gestão de Michel Temer, era o único “ativo” da Casa Civil, que no primeiro ano do governo Bolsonaro perdeu a importante Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ) e a articulação política do Palácio do Planalto.

Nos primórdios da administração Bolsonaro, o PPI esteve sob a batuta do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, então ministro da Secretaria de Governo, exonerado na esteira de polemica envolvendo manipulação de mensagens de WhatsApp.

Com a transferência do PPI para a pasta da Economia, a Casa Civil fica sem razão de existir, cabendo ao presidente apenas anunciar a demissão de Onyx Lorenzoni. Resta saber se Bolsonaro fará isso, pois Lorenzoni foi apoiador de primeira hora da candidatura do atual presidente e um dos coordenadores de sua campanha.

Jair Bolsonaro é um fracasso quando o assunto é demonstração de autoridade, algo que seus apoiadores confundem com “cara feia” e declarações marcadas pela estupidez. Se de fato tivesse autoridade, o presidente teria demitido o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que continua o desafiando.