O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta-feira (29), em Bruxelas, o acordo que estabelece os termos da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Finalizado também o trâmite equivalente em Londres, a votação conclui o processo de ratificação parlamentar do acordo e põe fim a quase três anos de negociações. Com o aval, o Brexit deve ocorrer à meia noite de 31 de janeiro de 2020.
Após um debate, o acordo foi aprovado por 621 votos a favor, 49 contra e 13 abstenções. A aprovação final era vista como uma mera formalidade, mas era o último obstáculo que poderia ter impedido a saída do Reino Unido do bloco, do qual é membro há 47 anos, no dia 31.
“Só com a agonia da despedida somos capazes de compreender a profundidade do amor”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante seu discurso aos parlamentares, citando o autor britânico George Eliot. “Sempre amaremos vocês e nunca estaremos distantes. Vida longa para a Europa”, acrescentou.
Durante a votação em Bruxelas, muitos parlamentares deixaram claro que estavam votando a favor do acordo não porque apoiam o divórcio, mas para evitar um caótico Brexit sem acordo. Alguns relembraram o papel do Reino Unido no desenvolvimento do projeto de unificação da Europa e em batalhas históricas contra a tirania no continente.
“Se pudéssemos impedir o Brexit votando ‘não’ hoje, eu seria o primeiro a recomendar isso. É realmente uma questão triste”, disse o encarregado do Brexit no Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt. “Estamos tristes em ver saindo um país saindo que duas vezes nos libertou, que duas vezes deu seu sangue para libertar a Europa”, acrescentou, referindo-se à participação do Reino Unido nas duas Guerras Mundiais.
Já o líder do Partido Brexit, Nigel Farage, estava animado. Em seu discurso, descreveu o divórcio como uma vitória do populismo sobre o globalismo. Ele e outros eurodeputados de sua legenda ergueram então bandeiras britânicas, violando as regras do Parlamento, e deixaram o local. “Estamos dizendo adeus”, ressaltou Farage. Mais tarde, o grupo voltou para a sessão para votar a favor do acordo.
Esse foi o último ato legislativo dos 73 eurodeputados britânicos, e a partida foi difícil para alguns deles. A líder espanhola da bancada socialista, Iratxe Garcia Perez, derramou lágrimas ao se despedir dos colegas do Partido Trabalhista britânico.
Com o acordo aprovado, boa parte dos eurodeputados começou a entoar o poema escocês “Auld Lang Syne”, cantado normalmente no Ano Novo, mas também comum em funerais.
O aval do Parlamento Europeu é o penúltimo passo para que o Reino Unido possa deixar o bloco. Agora, o texto do acordo será avaliado pelo Conselho Europeu, que reúne chefes de Estado e de governo da União Europeia, o que deve ocorrer entre esta quinta e sexta-feira. Não deve haver qualquer obstáculo para que o pacto seja aprovado por maioria simples.
O que acontece agora?
Depois do Brexit, o Reino Unido terá um status de “país terceiro”, e o drama político e econômico deve continuar. O acordo de divórcio prevê que um período de transição até 31 de dezembro deste ano, no qual o Reino Unido deixará as instituições europeias, mas continuará seguindo a maioria das regras do bloco.
Durante esse período, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson deve tentar negociar um ambicioso acordo de livre-comércio, num prazo sem precedentes, com os 27 países remanescentes da UE.
Apesar do ceticismo de alguns países europeus, Johnson insiste que está otimista quanto à possibilidade de alcançar um acordo abrangente até o fim do ano. As negociações entre a sexta maior economia do mundo e os 27 países-membros do bloco, no entanto, devem ser complicadas.
Direito de pesca, residência e trabalho, assim como tarifas de livre-comércio e acesso à Europa para o enorme setor de serviços britânicos estão entre os pontos a serem esclarecidos.
“Estamos considerando um acordo de livre-comércio com tarifas zero e cotas zero. Isso seria único”, afirmou von der Leyen. “Mas a pré-condição é que negócios europeus e britânicos continuem competindo em igualdade de condições. Não vamos expor nossas empresas a concorrência desleal”, acrescentou.
Johnson espera que um aumento do comércio com os Estados Unidos e com a Ásia possa compensar os custos do Brexit. (Com agências internacionais)