Muitos dos integrantes do governo de Jair Bolsonaro sofrem de um sério problema de retórica, a começar pelo presidente da República, que além de não saber o que fala não honra as próprias palavras. Talvez seja um misto de deficiência cognitiva com covardia.
Não faz muito tempo, Bolsonaro, quando questionado sobre o caso das “rachadinhas”, disse a um jornalista que o aguardava à porta do Palácio da Alvorada que ele tinha “cara de homossexual”. Quando perguntado sobre o recibo do empréstimo que disse ter a Fabrício Queiroz, o presidente sugeriu ao repórter que perguntasse à própria mãe.
Na última quarta-feira (5), em evento no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro afirmou que se pudesse confinaria os ambientalistas na Amazônia, declaração típica de candidatos a ditador. Em contato com populares que batem ponto diariamente na portaria da residência oficial da Presidência, o chefe do Executivo sugeriu que os ambientalistas são maconheiros e afeminados. E por aí vai!
Batizado com a alcunha de “Posto Ipiranga”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não fica longe do chefe quando o assunto é verborragia insana. Nesta sexta-feira (7), a defender a reforma administrativa que o governo pretende aprovar no Congresso ainda em 2002, Guedes comparou os servidores públicos a “parasitas”.
“O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo. O cara (funcionário público) virou um parasita e o dinheiro não está chegando no povo”, disse o ministro.
Paulo Guedes deveria compreender que quando ingressaram no serviço público, os servidores se depararam com regras claras e definidas no que tange à estabilidade no emprego e ao reajuste salarial, portanto não é errado pleitear aquilo que está previsto na legislação que trata do funcionalismo. Mesmo assim, algo precisa ser feito para equacionar o problema, mas não será com esses destampatórios que assunto será resolvido.
É de conhecimento público que na órbita do Estado existem parasitas de sobra e dos mais variados naipes, assim como acontece em todos os segmentos da sociedade, mas não se pode pasteurizar a acusação, pois demonizar o funcionalismo público, como faz Guedes, pode levar o País à paralisia.
Diante da repercussão negativa da declaração, Guedes, que parece ser tão covarde quanto Bolsonaro, divulgou nota em que afirma que sua fala foi retirada de contexto. No comunicado, o ministro da Economia ressalta que “lamenta profundamente” o que considerou um desvio de foco do debate sobre a transformação do Estado.
“O ministro defendeu uma reforma administrativa que corrija distorções sem tirar direitos constitucionais dos atuais servidores. O ministro lamenta profundamente que sua fala tenha sido retirada de contexto pela imprensa, desviando o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão”, destaca o comunicado.
Não há como retirar do contexto uma frase como: “O hospedeiro está morrendo. O cara virou um parasita e o dinheiro não está chegando no povo”. Hombridade é algo que não se compra no armazém da esquina, por isso Paulo Guedes adotou essa postura pífia e típica de covardes contumazes.
Por falar em “parasitas”, Paulo Guedes poderia criar coragem e explicar aos brasileiros de bem o caso que está sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) e que na ementa possível ocorrência de crime de gestão fraudulenta ou temerária nos investimentos realizados pela BR Educacional Gestora, da qual Guedes era sócio até meses antes de assumir a pasta da Economia. A gestora criou dois fundos de investimentos de participação (FIPs), responsáveis por captar e aplicar mais de R$ 1 bilhão, recursos captados junto aos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa), Postalis (Correios), além do BNDESPar, braço de investimentos do BNDES.