Chefe da Igreja Católica, o Papa Francisco descartou, nesta quarta-feira (12), qualquer possibilidade de endossar a proposta que permite a ordenação de homens casados como solução para a falta de padres na Amazônia, deixando de lado uma questão que dominou a Igreja Católica nos últimos meses.
Em aguardado documento, o sumo pontífice não fez qualquer referência à recomendação apresentada durante o Sínodo da Amazônia em outubro passado, que desencadeou discussões sobre o celibato obrigatório para padres. Em vez disso, o papa pediu que bispos orem por mais vocações sacerdotais e enviem missionários à região.
No documento de 52 páginas, intitulado “Querida Amazônia” e dividido em 111 pontos, o Papa resume suas reflexões sobre o Sínodo, no qual foram abordados problemas que a região e suas comunidades nativas enfrentam.
A ausência do tema na Exortação pós-sinodal decepcionou progressistas que esperavam, pelo menos, a solicitação de estudos adicionais, e aliviou conservadores que usaram o debate para aumentar sua oposição ao papa, a quem alguns acusaram de heresia.
A maior parte do documento é uma carta de amor à floresta e aos povos indígenas escrita pelo primeiro papa latino-americano da história, que há muito tempo demonstra preocupação com a exploração violenta da terra e as injustiças cometidas contra comunidades locais, além da questão ambiental.
A carta é direcionada a todos os povos do mundo. No texto, Francisco expressa seus “quatro grandes sonhos” para a Amazônia: “que lute pelos direitos dos mais pobres”, “que preserve a riqueza cultural”, “que guarde zelosamente a sedutora beleza natural” e, que as comunidades cristãs sejam “capazes de se devotar e encarnar na Amazônia”.
O papa também sugere desenvolver uma Igreja “com um rosto amazônico”, que incorpore os valores de comunidades nativas e integre a dimensão social com a espiritual.
Francisco defende também que a Eucaristia seja celebrada com maior frequência em regiões mais remotas e pede que bispos, principalmente os latino-americanos, sejam “mais generosos” e escolham a Amazônia.
No documento, o Papa endossou muitas recomendações do Sínodo, como a participação maior de leigos na vida da Igreja e de um treinamento específico para padres que vão para a região voltado a atender necessidades de comunidades indígenas.
Apesar de reconhecer a importância das mulheres na região e afirmar que elas precisam ter papel maior na tomada de decisões, Francisco rejeitou sugestões da ordenação de mulheres e disse que precisam ser encontradas “outras formas de serviços femininos”. O Papa encoraja ainda a união dos cristãos na defesa dos pobres da Amazônia.
Em outubro passado, bispos católicos recomendaram, durante o Sínodo da Amazônia, a ordenação de homens casados como sacerdotes como uma solução para enfrentar a escassez de clérigos na região – uma proposta histórica que poderia pôr fim a séculos de tradição católica romana.
A maioria dos 180 bispos de nove países da Amazônia pediu também ao Vaticano para reabrir um debate sobre a ordenação de mulheres para desempenhar o papel realizado por diáconos, sustentando que “é urgente que a Igreja promova e confira na Amazônia ministérios para homens e mulheres de maneira equitativa”, de acordo com o documento final.
A recomendação foi criticada pela corrente conservadora da Igreja. Em meados de janeiro, o papa emérito Bento 16 voltou ao noticiário ao aparecer como coautor de um livro contra a flexibilização do celibato. Em meio à polêmica, ele negou ter autorizado a publicação. (Com agências internacionais)