De: Ucho Haddad, filho de engraxate – Para: Paulo Guedes, elitista estúpido que virou ministro

(*) Ucho Haddad

“Quando o sujeito é burro, peça a Deus que o mate e, ao diabo, que o carregue o quanto antes”. Assim dizia meu saudoso pai, um engraxate que foi considerado gênio três vezes pelo MEC (não essa espelunca de hoje) e não tinha papas na língua. Falava pouco, muito aquém do necessário, mas quando decidia falar era certeiro e mortal. Para sua sorte, Paulo Guedes, ele se foi há décadas. Do contrário, a essa altura a saraivada discursiva seria outra.

Com a graça do Senhor conheci meu pai. Não sei se você conheceu o seu. Alto lá! Não pense que estou a fazer qualquer insinuação maldosa, como as que fazem as empregadas domésticas do nosso Brasil varonil. É porque esse governo mequetrefe, que você tanto defende, tem como presidente um cidadão amante de ditadores e torturadores. Meu pai conseguiu escapar das mãos facinorosas dos agentes do DOI-Codi, por isso aventei a possibilidade de você não ter conhecido o seu. Mesmo assim, espero que as domésticas mudem de opinião a seu respeito, até porque nenhuma mãe deve ser culpada, seja lá do que for.

Por falar em mãe, a minha, a de sangue, morreu recentemente a bordo de sabedoria e elegância ímpares, mas se viva estivesse certamente já teria dito, com voz macia e moderado tom, após ouvi-lo comentar sobre o câmbio: “Coitado, um imbecil!”. Elegante ela sempre foi, mas quando abria a escotilha do paiol, a “turquinha” se transformava em “mulher-bomba”.

Quando o então candidato Jair Bolsonaro disse, ainda em 2018, que por ser ignorante em termos de economia havia decidido “casar-se” com você, Paulo Guedes, de chofre percebi que boa coisa desse relacionamento não sairia. Até porque, como diz a sabedoria popular, quando a corda e a caçamba não inspiram confiança…

Volto ao tema das mães… Como Deus é meu parceiro, tive três mães: Zuzu, a de sangue, a que me pariu e me apoiou o tempo todo em minhas escolhas. Foi ímpar, faz muita falta! Chica, minha mãe por adoção, negra espetacular e raçuda que também me apoiou o tempo todo em minhas escolhas. Foi minha Meca espiritual. Foi ímpar, faz muita falta! Era empregada doméstica, por isso não preciso dizer o que senti quando você, Paulo Guedes, falou sobre a festa que era quando as “secretárias do lar” viajavam a torto e a direito para a “Disneylândia” por causa do dólar baixo. A terceira mãe, imaginária, que você pode batizá-la como quiser, essa jamais morrerá. Até porque, assim como juízes de futebol – ministros da Economia também –, jornalistas precisam de uma mãe de estepe para que os desafetos xinguem à vontade. Fico feliz por você ter conhecido seu pai!

Somente um desavisado poderia esperar algo diferente de alguém que aceita ser ministro de um governo cujo presidente exalta a memória de torturadores, homenageia ditadores e precisa disparar ao menos uma besteira por dia para estar no noticiário. Você vai até Chicago atrás de um diploma de economista para, mais tarde, fazer parte de um governo tosco e canalha como o de Jair Bolsonaro? De duas uma: ou você é atrapalhado da ideia ou há algo estranho nos bastidores.

Sua soberba é tamanha, Paulo Guedes, que o cérebro e a oratória começam a traí-lo de maneira recorrente. Repare como isso vem ocorrendo com preocupante frequência. Por mais que a economia do País esteja sob o seu comando, o que chega a ser uma temeridade para quem de fato entende do assunto, a sua essência exala o olor da discriminação, da insensibilidade, da supremacia, da arrogância. Você, Paulo Guedes, ao esparramar seus destampatórios Brasil afora mostra cada vez mais que é nada. Paulo Guedes, você é nada, simplesmente nada. Não é e nunca será melhor do que a empregada doméstica que trabalha na sua casa. Se é que ela não fez as malas e foi embora sem avisar. É o que eu faria depois daquela sua pérola discursiva cultivada na lama da ignorância.

Ao defender uma possível volta do AI-5, o que por si só é um atentado contra a democracia, você, Paulo Guedes, em Washington, abusou da estupidez discursiva para criticar um apelo do ex-presidente Lula para que a população saísse às ruas para protestar contra esse desgoverno que aí está. Porque Bolsonaro venceu a eleição presidencial de 2018 todos devem se comportar como gado? Paulo Guedes, a sua intelectualidade beira a delinquência e você não tem cabedal para falar em tradição democrática. Lamento pelo fato de as empregadas domésticas e todos os que a elas são ligados não tenham saído às ruas para paralisar o País e mostrar aos déspotas palacianos quem de fato manda nessa barafunda.

Teórico arrogante, você, Paulo Guedes, acredita ser integrante de uma casta superior apenas porque conseguiu um reles “canudinho” em universidade americana. Se por lá ensinam o que você tem colocado em prática no Brasil, quero passar a léguas de distância dessa escola, cuja tradição você e seus subordinados têm achincalhado. Afinal, governar um país exige olhar para os mais pobres. Isso, na cabecinha bitolada e oca de Bolsonaro, é discurso de comunista, mas na verdade é ato primeiro de quem tem bom-senso e responsabilidade. Algo que lhe falta, assim como falta para a maioria dos que integram esse governinho canalha.

O fato de ser graduado em Economia não o faz melhor. O fato de ser graduado em Economia em universidade estadunidense também não o faz melhor. Como o seu “patrão” adora um desafio, até porque ele confunde governo com gincana, deixo aqui o meu desafio, na verdade um convite. Aceito debater Economia e as questões do Estado, desde que você, Paulo Guedes, prometa não recorrer a galhofas e piadinhas de ocasião. Nada de humilhar as empregadas domésticas, os servidores públicos, a Michelle Macron… Pode levar quem quiser e o que desejar. Leve o Bolsonaro, os filhinhos mimados do patrão, o generalato que se instalou no Palácio do Planalto, a “capangada” toda. Leve planilhas, tabelas, ponto eletrônico e outras quinquilharias. Faço uma reivindicação e uma sugestão: que me deixem levar os óculos, pois do contrário não enxergo, e contratem uma ambulância, já que o atropelamento será generalizado. Como o governo se transformou em um forte apache, talvez o ideal seja montar um hospital de campanha à beira do local do nosso encontro. Não que seja o melhor de todos, mas a diferença é que penso de maneira lógica e cartesiana, sempre pensando nos desassistidos. Você, Paulo Guedes, quando pensa, o faz como um elitista détraqué.

Ao ler esse meu convite, Paulo Guedes, você imediatamente pensará que sou “metido”, mas não é essa a realidade. Nesse cenário, o “metido” é você, que continua acreditando que empregada doméstica não pode ir à Disney. Você sugeriu que as domésticas visitassem algumas cidades brasileiras, mas abstenho-me de relevar o destino que elas escolheram para você. O máximo que consigo fazer é dar uma dica: rima com Brasil.

Por falar em ser metido e ir aos Estados Unidos, quero lembrá-lo que o seu patrão disse, não faz muito tempo: “Se eu puder dar o filé mignon para o meu filho, eu dou”. Ou seja, com o suado dinheiro do contribuinte, o que inclui também as empregadas domésticas que você tanto odeia, Bolsonaro queria transformar um fritador de hambúrguer, que sequer balbucia corretamente “the book is on the table”, em embaixador na capital dos EUA. E as empregadas domésticas não podem ir à Disney? Hummmmmm, entendi!

Paulo Guedes, peço licença para exigir demais do seu raciocínio tosco, mas preciso misturar alguns assuntos. Fique tranquilo, pois em meia hora você há de perceber aonde quero chegar. Como Jack, o Estripador, vamos por partes: Depois da pataquada envolvendo as domésticas e a Disney, você sugeriu que elas devem visitar Cachoeiro do Itapemirim, terra do Roberto Carlos, o “Rei”. Será que o RC já sabe que no Brasil tem um imperador e três príncipes herdeiros?

Paulo Guedes, não sei se é do seu conhecimento ou se já ouviu em algum momento, Roberto tem uma música chamada “Sua Estupidez”. Não me refiro à sua estupidez, mas à música do RC. Parte da letra parece que foi escrita tendo você, nosso magnânimo ministro da Economia, como inspiração. “Quantas vezes eu tentei falar / Que no mundo não há mais lugar / Pra quem toma decisões na vida sem pensar / Conte ao menos até três / Se precisar conte outra vez…”

Paulo Guedes, se precisar conte até cem, conte até mil, antes de falar besteiras. Se precisar, conte outra vez. Depois de afirmar que “com o dólar baixo até as empregadas domésticas estavam viajando para a Disneylândia”, você sugeriu que elas viajassem para alguns destinos dessa república bananeira chamada Brasil.

Suponhamos, Paulo Guedes, que as domésticas acatem sua estapafúrdia sugestão e decidam conhecer o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, território dos milicianos – alguns deles homenageados e defendidos pela família do seu patrão –, cenário de balas perdidas, terra sem lei, faroeste caboclo. É isso mesmo que elas devem fazer? Não sejamos radicais, já que existem outros destinos no País, como Manaus, por exemplo, que agora está tomada pelo crime organizado. Talvez seja uma experiência interessante.

Você, Aladim, quer dizer, Paulo Guedes, afirmou aos apasquinados que o aplaudiram em Brasília ser bom para o País, bom para todos, o dólar nas alturas. Bom para quem? Enlouqueceu? Desculpo-me, mas esqueci que por trás de toda marionete sempre existe um titereiro, talvez exista um punhado deles, engravatados e empertigados, fazendo cara de nojo quando sentem o cheiro da pobreza.

Com o dólar alto, Paulo Guedes, o preço do trigo aumenta e o pãozinho nosso de cada dia fica mais caro. Aquela “macarronada” dominical na casa da mamma também fica mais cara. Com o dólar alto, Paulo Guedes, a Petrobras, que tem sua política de preços atrelada ao mercado internacional, é obrigada a reajustar os preços dos combustíveis. Com isso, produtos e serviços ficam mais caros. Mas não há razão para se preocupar, pois no Brasil a renda média de mais da metade da população é inferior a um salário mínimo, que hoje vale incríveis R$ 1.045. Com o dólar alto, Paulo Guedes, a indústria automobilística brasileira entra novamente no torvelinho, pois 40% dos componentes são importados. Mas não há razão para se preocupar com esse reles detalhe, pois no Brasil não há desemprego e o transporte público é um espetáculo. Com o dólar alto, Paulo Guedes, as companhias aéreas aumentam os preços das passagens, impedindo que as empregadas domésticas visitem o Brasil. Com o dólar alto, Paulo Guedes, a indústria farmacêutica, que depende de insumos importados, é obrigada a elevar os preços dos medicamentos. Mas não há razão para se preocupar com isso, pois a saúde pública no Brasil é de excelência e o cidadão consegue gratuitamente qualquer medicamento no posto médico da esquina. Afinal, Jair Bolsonaro, o seu patrão, disse, durante a campanha de 2018, ser o único candidato à Presidência com condições de resolver os problemas do País. Eu e as empregadas domésticas estamos aguardando por essas soluções no Reino da Bozolândia.

Voltando à moeda ianque… Paulo Guedes, se dólar alto é bom para o Brasil e para todos não sei dizer, mas sugiro que você, economista badalado e graduado na Universidade de Chicago, convença o presidente do Banco Central, que hoje precisou intervir no mercado de câmbio para que o estrago não fosse maior.

Para finalizar, Paulo Guedes, até porque já gastei o verbo além da conta, mesmo com o dólar acima dos R$ 4,30 estou relativamente tranquilo em relação às viagens das domésticas, pois se enquanto você estiver no governo elas não poderão visitar o Mickey, ao menos terão a chance de conhecer o Pateta indo até Brasília. Sem contar que no Planalto Central esbarrarão o tempo todo com os filhos do Pluto. Passe bem!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não representando obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.