Heleno ameaça o Congresso, mas é chamado de “radical ideológico contra a democracia” por Maia

Democracia, no “lato sensu”, não é o forte da maioria dos integrantes do chamado núcleo duro do governo de Jair Bolsonaro, a começar pelo general da reserva Augusto Heleno, chefe do gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), que de forma recorrente foge de suas atribuições e palpita em assuntos que não é da sua competência.

Na terça-feira (18), durante reunião no Palácio do Planalto, Heleno orientou o presidente da República a não ceder às “chantagens” do Congresso Nacional. Após bater na mesa, em torno da qual ministros e o próprio Bolsonaro estavam reunidos, o chefe do GSI mostrou-se contrariado com a disposição do Parlamento de derrubar os vetos presidenciais ao orçamento impositivo e controlar parte dos recursos de 2020.

Augusto Heleno, que, diante da insistência do Congresso, sugeriu a Bolsonaro para “convocar o povo às ruas”, em dado momento do encontro disparou: “Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”.

Literal fracasso em termos de articulação política, o governo Bolsonaro só chegou até aqui porque o Congresso mostrou boa vontade e aprovou matérias de interesse do País, não do interesse do Palácio do Planalto, mesmo que os palacianos chamam para si a autoria dos feitos.

No momento em que o governo precisa encontrar uma mediatriz no campo da articulação política, acenar com beligerância é sinal de irresponsabilidade política. Com esse cenário pouco favorável, só restam duas conclusões: ou Bolsonaro está disposto ao fracasso como governante ou não desistiu de dar um “cavalo de pau” na democracia, como sempre afirmou o UCHO.INFO. Aliás, a sugestão do chefe do GSI de convocar o povo às ruas é serviu, em priscas eras, para referendar golpes.

Na manhã desta quarta-feira (19), ao chegar à Câmara dos Deputados, o presidente da Casa legislativa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu o ministro do GSI e não economizou palavras ao criticá-lo.

“Geralmente, na vida, quando a gente vai ficando mais velho, a gente vai ganhando equilíbrio, experiência e paciência. O ministro, pelo jeito, está ficando mais velho e está falando como um jovem, um estudante no auge da sua juventude. É uma pena que o ministro com tantos títulos tenha se transformado num radical ideológico contra a democracia, contra o Parlamento. Muito triste. Não vi por parte dele nenhum tipo de ataque quando a gente estava votando o aumento do salário dele como militar da reserva”, disse Maia.

“Não é a primeira vez que ele ataca, mas dessa vez veio a público. É uma pena. Todos nós sabemos da competência dele na carreira militar. É uma pena que ele considere a relação com um Parlamento que tanto tem produzido para o Brasil, muitas vezes em conjunto com o governo, principalmente com a equipe econômica, como um Parlamento que quer chantagear. Muito pelo contrário. Esse Parlamento se quisesse apenas deixar as pautas correrem soltas, o governo não ganhava nada aqui dentro. Tudo é feito por responsabilidade com o Brasil”, emendou o presidente da Câmara.

Quando o panorama institucional começa a registrar solavancos com frequência, o resultado normalmente não é dos melhores. É bom lembrar que Jair Bolsonaro foi eleito para governar, não para impor a fórceps suas vontades, fazendo de seus desvarios o conjunto de regras a ser seguido pela sociedade. O Brasil ainda é uma democracia, de fato e de direito, por isso a ordem é resistir a qualquer custo.