Bolsonaro autoriza Forças Armadas no Ceará, mas mostra-se irresponsável ao dizer que “o bicho vai pegar”

O presidente Jair Bolsonaro autorizou, na quinta-feira (20), o envio de tropas das Forças Armadas ao Ceará para reforçar a segurança no estado nordestino. O decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União e vale até 28 de fevereiro.

A medida atende a um pedido do governador cearense, Camilo Santana (PT), que nas redes sociais comemorou o decreto e lembrou que o emprego da Força Nacional já havia sido autorizado para atuar em conjunto com as forças de segurança do estado.

“Todo o esforço será feito para garantir a proteção dos nossos irmãos e irmãs cearenses. Agradeço ao presidente Jair Bolsonaro pelo apoio do governo federal neste momento”, disse Santana.

O Ceará enfrenta uma crise na área de segurança pública, agravada pela paralisação de parte dos policiais militares, que estão amotinados em quartéis e batalhões. Eles protestam contra uma proposta de reajuste salarial apresentada pelo governo estadual.

Na última quarta-feira (19), o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado ao tentar entrar em batalhão da Polícia Militar (PM) em Sobral, no interior do estado, usando uma retroescavadeira. O quartel estava com os portões fechados e ocupado por policiais.

Contrário à paralisação dos agentes, o irmão do ex-presidenciável Ciro Gomes foi transferido de um hospital em Sobral para Fortaleza nesta quinta-feira. Ele passa bem, e seu quadro é estável.

 
Ao anunciar a assinatura do decreto, Bolsonaro afirmou que Camilo Santana “preencheu os requisitos”, e aproveitou para defender novamente o excludente de ilicitude, que isenta de punição agentes que cometerem excessos durante operações de Garantia da Lei e da Ordem.

“Deixo bem claro uma coisa, a gente precisa do Parlamento para que seja aprovado o excludente de ilicitude. A minha consciência fica pesada nesse momento, que tem muitos jovens de 20, 21 anos que vão estar na missão. Vão cumprir uma missão que se aproxima de uma guerra, e depois, caso venha qualquer problema, podem ser julgados por lei de paz”, disse o presidente à porta do Palácio do Alvorada.

“Temos que dar garantia jurídica, retaguarda jurídica para esses militares das Forças Armadas que estão nessa missão. É irresponsabilidade continuarmos fazendo essa operação sem dar a devida garantia para esses integrantes das Forças Armadas”, acrescentou Bolsonaro.

Na noite de quinta-feira, o presidente da República, em transmissão pela internet, recorreu ao seu conhecido tom debochado para anunciar a decisão de autorizar o envio de tropas militares ao Ceará.

“O pessoal que está cometendo delitos, crimes nessas regiões, onde, por um motivo qualquer, por um motivo justo, estão indo as Forças Armadas para lá – tem que entender que o pessoal verde está chegando, e o bicho vai pegar. Porque, se é para tratar com flor essa galera, não fiquem enchendo nosso saco e vão pedir para outras instituições para cumprir esta missão”, afirmou Bolsonaro na transmissão.

Jair Bolsonaro, ao que parece, não está preocupado em solucionar o problema pontual da segurança pública no Ceará, mas, sim, em fazer política e falar para o seu eleitorado, sempre ávido por decisões toscas e radicais. Ao afirmar que o “bicho vai pegar”, palavrório que não coaduna com o cargo, o presidente, em vez de enviar mensagem pacificadora, acaba incitando ainda mais os policiais grevistas.