Se o governo fosse sério e Bolsonaro tivesse doses rasas de coragem, ministro da Saúde já estaria demitido

Quem acompanhou a entrevista do ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, aos jornalistas do programa Central GloboNews, ancorado por Heraldo Pereira, não demorou a perceber que o governo de Jair Bolsonaro vive de populismo barato e fanfarronices oficiais, como se a massa encefálica do brasileiro estivesse em pane.

Depois de seguidos bamboleios discursivos, Mandetta, ao final do programa em que falou somente sobre coronavirus, foi convidado pelo âncora para uma fala de encerramento. Para quem é médico de formação e na última terça-feira (26), em entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, da GloboNews e do portal G1, disse que o caso confirmado de Covid-19 era uma simples “gripe” e que o País superaria esse quadro com facilidade, a fala no programa foi simplesmente um deboche.

Dirigindo-se aos telespectadores da GloboNews, Mandetta pediu que todos “alimente-se bem, tenham fé e acreditem nos profissionais de saúde”. Essa receita, que segundo o ministro é da “vovó”, é um tapa na cara da sociedade, pois beira a estupidez alguém recomendar à população que alimente-se bem em um país cujo salário mínimo está fixado em R$ 1.045, valor que mal dá para sobreviver.

Sobre acreditar nos profissionais de saúde, o ministro deve estar com os fios do cérebro trocados, já que o desafio maior é confiar no sistema público de saúde. Se na maior cidade brasileira, São Paulo, uma das maiores do planeta, em muitos postos de saúde faltam medicamentos básicos, como aspirina, por exemplo, pedir que os cidadãos supostamente contaminados pelo coronavírus acreditem nos médicos é querer fugir da responsabilidade.

Em 9 de junho de 2019, em Porto Alegre, durante palestra no “Seminários de Gestão”, cujo tema era “Desafios da Saúde”, Mandetta disse à plateia que era preciso se preparar para um Sistema Único de Saúde (SUS) revigorado e com maior participação dos hospitais privados e filantrópicos. Por enquanto o vigor prometido pelo ministro permanece continua à beira do caminho, como sempre, já que o cidadão continua a enfrentar uma batalha no momento em que busca o serviço público de saúde.

 
A fala fácil do ministro da Saúde pode ser compreendida de alguma maneira, já que Mandetta, em tempos outros, foi presidente da Unimed em Campo Grande (MS). Além disso, sua filha, a advogada Marina Alves Mandetta, ao abrir o próprio escritório de advocacia carregou a tiracolo a Unimed Rio, cliente de outra banca advocatícia da capita fluminense. De quebra a filha do ministro conquistou dois clientes de peso: Unimed Seguros e a Central Nacional Unimed. Essa meteórica ascensão profissional na vida da advogada aconteceu depois que o pai foi anunciado como ministro da Saúde.

No tocante a ter fé, isso em nada soluciona eventuais contaminações por coronavírus. Não se trata de ignorar a fé, mas se isso resolvesse a epidemia que já matou milhares ao redor do planeta, mais de 1 bilhão de chineses estariam em preces diuturnamente.

Luiz Henrique Mandetta é de tal forma irresponsável, que sua pasta anunciou nesta quinta-feira (27) a antecipação da campanha de vacinação contra a gripe como forma de combater o coronavírus. Ora, se pesquisadores ainda buscam uma vacina contra o vírus do Covid-19, é porque a vacina contra o H1N1 não é eficaz para evitar tal patologia.

Secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo disse nesta quinta-feira que O Brasil monitora 132 casos suspeitos de infecção pelo coronavírus. Até o momento, apenas um caso da doença foi confirmado. A quantidade de casos suspeitos deve aumentar com o passar do tempo, principalmente porque a doença ultrapassou as fronteiras da China e já aterrissou em pelo menos 45 países, em todos os continentes. De acordo com Gabbardo, “dá para avaliar que estamos próximos de 300 casos suspeitos de coronavírus” no Brasil.

Eis a reles gripe do Mandetta, que já estaria demitido se o governo fosse minimamente sério e o presidente Jair Bolsonaro tivesse doses rasas de coragem para mostrar-lhe o necessário cartão vermelho. Enfim…