Mandetta seria um poeta se ficasse calado, mas criticou construção de hospitais em tempo recorde na China

O grande problema do governo de Jair Bolsonaro é que seus integrantes, em esmagadora maioria, são incompetentes, mas creem que fazem parte da árvore genealógica de Aladim, o folclórico gênio da lâmpada maravilhosa. É o caso do ministro da Saúde, que não contente com o fato de ser médico precisou ingressar na carreira política. Alguém há de dizer que Luiz Henrique Mandetta optou pela carreira pública para emprestar ao País seus conhecimentos, mas não é isso que tem acontecido nos últimos anos.

Criticar o governo Bolsonaro é uma decisão arriscada, já que a súcia de apoiadores do presidente reage com fúria, como uma mandada descontrolada, sempre disposta a tudo, em especial quando os argumentos necessários ao contraponto desaparecem. É nesse momento que começa o jogo sujo e rasteiro, pois é necessário defender a imagem de um pária da política nacional.

Voltando a Mandetta… Como se fosse o maior nome do planeta em epidemiologia, o ministro da Saúde criticou, na quinta-feira (27) os procedimentos adotados pela China no combate ao novo coronavírus (Covid-19). Entre as medidas que foram alvo de críticas estão o bloqueio de cidades e a construção em tempo recorde de dois hospitais, com mais de 2 mil leitos, para atender aos infectados.

“Alguns acharam que aquilo ali era uma demonstração de muita potência, aquilo foi uma demonstração de uma medida equivocada, que levou a um colapso do sistema hospitalar”, disse o ministro.

Mandetta deveria ater-se às questões nacionais da saúde, evitando dar palpite em assuntos de outras nações, pois as medidas adotadas pelo governo chinês impediram que o estrago fosse ainda maior. Sobre as duas unidades hospitalares construídas pelo governo de Pequim em pouco mais de quinze dias, o ministro da Saúde deveria invejar a iniciativa, já que no Brasil pessoas morrem à porta dos hospitais enquanto aguardam atendimento.

 
Segundo o ministro, pessoas com síndromes respiratórias leves não devem ser internadas para não sobrecarregar as unidades de saúde. “Apendicites continuam a acontecer, infartos acontecem, e os hospitais continuam ali para atender esse perfil de pacientes”.

O titular da Saúde defendeu o isolamento domiciliar adotado pelo Brasil, como nos 85 casos suspeitos registrados pelo governo de São Paulo. “O isolamento domiciliar tem a eficácia tão alta quanto estar no hospital para esse tipo de vírus que é transmitido por gotículas, gotas de saliva”, disse Mandetta. “Não se interna um indivíduo no hospital porque ele está com uma síndrome gripal, conversando, falando, se alimentando”. Mandetta destacou ainda que, no hospital, a doença pode atingir pessoas com imunidade debilitada.

É preciso saber até que ponto vai a responsabilidade da pessoa que é colocada em isolamento domiciliar e quais as condições de saúde dos indivíduos que com ela conviverão nesse período. Considerando que no Brasil a saúde pública é um desastre e que no posto médica da esquina mais próxima há falta de medicamentos básicos, como analgésico, por exemplo, a fala do ministro é fruto do devaneio.

Sobre a internação de pessoas contaminadas pelo coronavírus, autoridades de vários países começam a se preocupar com contaminações assintomáticas e autóctones. Para que o leitor tenha ideia da gravidade do problema, no Japão uma mulher contraiu o novo coronavírus duas vezes.

O ministro afirmou também que as medidas adotadas pela China não foram eficazes para impedir que o vírus ultrapassasse as fronteiras do gigante asiático. “A condução desta história, desde o início na China, quando se fala, ‘vamos bloquear cidades, vamos fazer mega produções’, acabou espalhando [o vírus] por toda a península asiática”.

Alguém com pensamento obtuso, que se nega a compreender o significado de globalização, não pode estar à frente do Ministério da Saúde. Tomando por base a população chinesa, que é de 1,4 bilhão de pessoas, as medidas adotadas pelo governo local foram eficientes, uma vez que o número de casos envolvendo o Covid-19 é pequeno em termos percentuais – 2.788 mortes e 78.824 pacientes infectados. Ou seja, em relação à população chinesa, o índice de letalidade do Covid-19 é de 0,0002%, ao passo que o de infecção é de 0,01%. Em outras palavras, calado Mandetta é um poeta.