Paulo Guedes abusa da galhofa ao dizer “estou surpreso com a surpresa de vocês sobre o PIB”

 
Ao que parece, proselitismo barato e fanfarronice oficial são os cardápios prediletos do primeiro escalão do governo Jair Bolsonaro, que continua levando na brincadeira a situação por que passa o País. Depois do espetáculo circense encomendado pelo presidente da República para explicar o pífio crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, vexame que teve lugar diante da portaria do Palácio da Alvorada, nesta quarta-feira (4), a segunda troça ficou por conta de Paulo Guedes, ministro da Economia.

Após participar de evento com o presidente da República, Guedes disse que o governo já esperava o crescimento da economia na casa de 1,1% no ano passado. “Até agora, eu não diria que houve surpresa nenhuma. Estou surpreso com a surpresa que vocês estão tendo”, disse o “Posto Ipiranga”.

O ministro pode dizer o que bem entender, até porque o Brasil ainda é uma democracia, mas é preciso lembrá-lo que nos primeiros dias do governo a previsão era de que a economia nacional cresceria 2,5% em 2019. O próprio Paulo Guedes, em algumas declarações feitas à época, afirmou que o PIB poderia alcançar patamares ainda maiores, discurso que ganhou força no vácuo da reforma da Previdência, cuja aprovação foi prometida para maio de 2019, mas, como antecipou o UCHO.INFO, aconteceu apenas em meados de outubro.

Megalômano em suas declarações, Paulo Guedes prometeu recentemente a Bolsonaro que o PIB deste ano poderá facilmente passar a marca dos 2%. A promessa foi feita quando o presidente cobrou do ministro que o PIB de 2020 seja de pelo menos 2%. Na ocasião, o surto de coronavírus ainda estava circunscrito à cidade chinesa de Wuhan.

Agora, com a Covid-19 causando estragos mundo afora e chacoalhando as maiores economias do planeta, Paulo Guedes começa a condicionar um crescimento mais expressivo do PIB à aprovação das reformas administrativa e tributária, que sequer foram enviadas pelo governo ao Congresso Nacional. Mesmo assim, o ministro da Economia insiste que a economia brasileira tem condições de crescer acima dos exigidos 2%.

Como se fosse um profeta econômico, Paulo Guedes vociferou: “O Brasil é País de dimensão continental, tem própria dinâmica de crescimento, se fizermos nossas reformas, vamos reacelerar nosso crescimento. Se as reformas continuam, nós achamos que vamos passar de 2%”.

 
Seria prudente que Guedes conversasse com os integrantes de sua equipe, pois há no ministério quem índices menores para o PIB do corrente ano. Os mais otimistas falam em 1,7%, enquanto os realistas apostam em um intervalo entre 1,4% e 1,5%. A se confirmar a segunda hipótese, será mais um ano em que a economia terá caminhado a passos de cágado.

Antes de subir a rampa do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro assumiu publicamente ser ignaro em termos de economia. Para piorar, é um irresponsável quando o assunto é política. Paulo Guedes, por sua vez, já deu inúmeras demonstrações que um fracasso em termos de previsões econômicas e um postulante a aprendiz na seara política. Ou seja, o Brasil está nas mãos de pessoas despreparadas e que acreditam frequentar a árvore genealógica de Aladim.

As reformas mencionadas por Guedes continuam estacionadas no Palácio do Planalto. A reforma administrativa, por exemplo, continua parada no gabinete do presidente da República, que teme que aconteça no Brasil o que vem ocorrendo no Chile desde o final do ano passado: uma avalanche de protestos que tem colocado o presidente chileno Sebástian Piñera em quase diárias crises políticas.

No tocante à reforma tributária, o que se viu até o momento foi um punhado de discursos marcados pelo populismo barato, sem qualquer sinal de disposição por parte do governo para trata do tema de maneira séria e definitiva.

O Congresso Nacional, que foi o responsável maior pela reforma da Previdência, pois o governo pouco se mexeu, já avisou que se o Palácio do Planalto não enviar os projetos referentes às reformas administrativa e tributária, senadores e deputados tomarão a frente do processo.

Acontece que se por um lado o Parlamento demonstra boa vontade e disposição para tirar o Brasil do atoleiro, por outro o presidente da República continua criando frentes de conflito com o Congresso. Após negociar com os parlamentares um acordo para garantir a manutenção do veto a trechos do texto que trata do Orçamento impositivo, Bolsonaro foi às redes sociais para negar a existência de qualquer negociação. Talvez porque precisa manter a imagem de “durão” perante seus apoiadores.

Como se não bastasse, Bolsonaro, que até agora não governo de fato, insiste em apoiar os protestos contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) marcados para o próximo dia 15 de março. Essa é uma demonstração de irresponsabilidade desmedida de quem não tem compromisso com a nação, com a democracia e nem com o cidadão. Mesmo assim, os apoiadores de Jair Bolsonaro afirmam nas redes sociais que o elegeram para que ele agisse dessa maneira.