Ministério da Saúde continua tratando com irresponsabilidade epidemia do novo coronavírus no Brasil

 
Desde a chegada do novo coronavírus ao Brasil, o UCHO.INFO tem afirmado que o governo federal vem tratando do assunto de forma relapsa, em que pese a decisão do Ministério da Saúde de atualizar regularmente os dados sobre a Covid-19, com direito a entrevistas coletivas em Brasília. Alguns profissionais de imprensa têm elogiado a postura das autoridades federais, mas é preciso analisar o cenário atual com a devida parcimônia.

Doença de rico?

Até o momento, todos os casos confirmados da Covid-19 foram recepcionados em hospitais particulares, o que significa que a população de baixa renda está entregue à própria sorte. Alguém pode alegar que pessoas de baixa renda não têm recursos para viagens internacionais – que o diga o ministro Paulo Guedes –, o que até então é considerado pelo governo como única forma de contrair a doença, mas é preciso considerar a possibilidade de contágios em fase secundária e terciária.

Em alguns hospitais privados da capital paulista, pessoas que procuraram atendimento depois de viajarem à Itália foram informadas que qualquer medida só é adotada se o paciente apresentar quadro febril acima de 39,5º e congestionamento pulmonar. Em outras palavras, trata-se da privatização do descaso, algo que no Brasil já não assusta, principalmente porque planos de saúde, em função da crise e a consequente redução no número de clientes, tenta de todas as maneiras reduzir custos. Um paciente com 39,5º de febre e congestionamento pulmonar está com quadro de pneumonia.

Muitos planos de saúde têm negado autorização para a realização do exame do novo coronavírus, a não ser que o paciente apresente muitos dos sintomas da doença. Quem discordar dessa postura dos planos e insistir na realização do exame que se prepare para desembolsar perto de R$ 300 e pedir aos céus para que o resultado seja negativo. Do contrário, uma quarentena domiciliar será o próximo capítulo.

A preocupação maior está no contingente de pessoas que não têm planos de saúde e mantiveram contato, direito ou indireto, com quem foi contaminado pelo novo coronavírus. Nos hospitais públicos, após atendimento pífio, a pessoa que suspeita ter sido contaminada é mandada de volta para casa e aconselhada a tomar um antitérmico qualquer. Em um hospital público da cidade de São Paulo, visitado pelo UCHO.INFO, um médico recomendou que para que não se fizesse alarde sobre a Covid1-9, uma vez que após o Carnaval aumento a incidência de gripe comum. Isso porque o cidadão em questão deve ter um diploma de médico pregado na parede.

Padrão equivocado

Quem não dispõe de plano de saúde privada e recorre ao sistema pública precisa contar com a sorte e ter doses extras de paciência pois os profissionais escalados para o atendimento de suspeitas de Covid-19 estão mais perdidos do que os eventuais contaminados.

Seguindo orientações do Ministério da Saúde, esses profissionais tratam com desdém os que procuram os hospitais públicos apresentando diversos sintomas da doença, como relatamos em matéria anterior.

A irresponsabilidade é tamanha, que os profissionais da saúde pública só consideram a possibilidade de seguir com o diagnóstico se o paciente viajou para um dos países considerados de risco 14 dias anteriores. Trata-se de uma padronização burra de atendimento, já que o novo coronavírus, assim como muitos vírus, é mutante em termos genéticos.

Para se ter ideia da gravidade do quadro da doença no Brasil, o sequenciamento genético do vírus do primeiro caso confirmado no País diferiu do sequenciamento genético do vírus do segundo caso confirmado. Em ambos os casos, os pacientes, moradores da cidade de São Paulo, viajaram à Itália e procuraram atendimento no Hospital Albert Einstein, um dos mais caros e disputados do País. E encontram-se em isolamento domiciliar.

Pois bem, se nos dois primeiros casos confirmados no Brasil os sequenciamentos dos genomas dos vírus apresentaram resultados diferentes, sendo que um se assemelhou ao sequenciamento do vírus detectado na Alemanha e outro ao sequenciamento do vírus detectado no Reino Unido, significa que o vírus causador da Covid-19 chegou à Europa muito antes do que se tem notícia. Não custa lembrar que muito antes de a notícia sobre o coronavírus vir a público, profissionais de saúde chineses foram perseguidos e pressionados por autoridades locais por divulgarem informações sobre a doença.

Sendo assim, a contaminação pelo novo coronavírus pode ter ocorrido em países europeus muito antes do período usado pelo Ministério da Saúde como linha de corte para descartar casos no Brasil. A chance de isso ter acontecido é enorme, pois, a mutação genética de um vírus não se dá na velocidade da luz.

 
Índice de mortalidade

Como no Brasil poucos temas são levados a sério pela população, até porque aqui é o “paraíso do faz de conta”, o fato de o índice de mortalidade da Covid-19 ser baixo, em comparação com outras epidemias, não significa que deve-se deixar o assunto para as calendas. Afinal, o índice de letalidade do novo coronavírus aumenta de maneira preocupante entre pessoas idosas e com doenças preexistentes

A taxa de mortalidade em decorrência da Covid-19 é até nove vezes maior entre pessoas com alguma doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente. De acordo com dados do governo chinês, analisados em fevereiro por um grupo de conceituados especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no grupo de infectados que não tinham qualquer comorbidade o incide de mortalidade foi 1,4%. Contudo, entre pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%. Considerando todos os pacientes infectados, o índice médio de letalidade detectado na China foi de 3,8%.

Infecções secundária e terciária

De nada adianta os integrantes do Ministério da Saúde participarem de entrevistas coletivas exibindo gráficos, fotos e imagens, se a realidade envolvendo o novo coronavírus não vem sendo tratada da maneira adequada. A grande questão é que os jornalistas aceitam qualquer afirmação oficial como sendo a verdade suprema.

Com noticiamos em matéria anterior, uma paciente foi ao Hospital São Paulo, na capital paulista, no último sábado (29), ocasião em que relatou ter mantido contato por longo período com três pessoas que viajaram à Itália. A paciente também relatou aos médicos que apresentou muitos dos sintomas relacionados à Covid-19 – cefaleia, febre, tosse seca, dificuldade respiratória, dores musculares, fadiga, muco nas vias aéreas e diarreia –, mas que até sua chegada ao hospital fez uso de alguns medicamentos para atenuar o quadro.

No Hospital São Paulo o atendimento foi vergonhoso, considerando que naquele dia não se trata de alguém que procurava atendimento médico por estar com uma simples gripe, mas por suspeita de ter contraído o novo coronavírus.

A forma como vem ocorrendo os atendimentos nos hospitais, principalmente na rede pública de saúde, leva a um cenário de infecção autóctone em fases secundária e terciária, o que pode desencadear um quadro muito mais grave do que vem sendo anunciado pelas autoridades da Saúde. Tanto é assim, que o Ministério da Saúde já reconheceu que dois dos oito casos confirmados no Brasil até o momento se deram por infecção autóctone, ou seja, dentro do próprio País.

Quadro assintomático e contágio

Desde quando começaram a circular as primeiras informações sobre o novo coronavírus, autoridades têm insistido que até mesmo pessoas que não apresentam sintomas da doença podem estar infectadas e, portanto, transmitindo a Covid-19 sem saber.

É importante que tanto o Ministério da Saúde quanto os profissionais da área médica revejam seus padrões de atendimento, antes que seja tarde demais. O melhor exemplo é o caso da adolescente de 13 anos que viajou de São Paulo para Lisboa e, na sequência para a Itália. Na região das Dolomitas (Dolomiti, em italiano), no norte do país europeu e onde localiza-se a bela a badalada estação de esqui de Cortina D’Ampezzo, a jovem sofreu rompimento dos ligamentos do pé e foi atendida em um hospital local.

De volta à capital paulista, foi levada ao Hospital Beneficência Portuguesa, onde a contaminação pelo coronavírus foi confirmada, apesar de o quadro ser assintomático. Mesmo diante da contraprova, o Ministério da Saúde demorou a reconhecer oficialmente o caso como sendo positivo, em razão da ausência de sintomas da doença. Depois de muita especulação, o ministério recuou e decidiu confirmar o caso como sendo positivo.