Bolsonaro age como dono de circo ao explicar fracasso do PIB, mas culpa a imprensa pela ópera bufa

     
    Quando anunciou Paulo Guedes como responsável por comandar a economia brasileira, mesmo antes de subir a rampa do Palácio do Planalto, o presidente da República batizou o agora ministro com a alcunha “Posto Ipiranga”, dando a entender que o escolhido seria capaz de resolver todos os problemas econômicos que até hoje afligem os brasileiros.

    Entre ufanismo oficiais e devaneios em série, Guedes, que por diversas vezes foi desautorizado por Jair Bolsonaro, nem de longe conseguiu cumprir o que prometeu desde que aterrissou na Esplanada dos Ministérios. Com o anúncio por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 ficou em 1,1%, uma marca pífia, ao presidente da República, um néscio em economia, restou recorrer a um humorista para tentar explicar o inexplicável.

    Foi o que fez Bolsonaro na quarta-feira (4), à saída do Palácio da Alvorada, quando, diante das perguntas dos jornalistas sobre o desempenho da economia, acionou o humorista Márvio Lúcio, conhecido como “Carioca”, que travestido como presidente da República passou a oferecer bananas aos profissionais da imprensa. Por certo esse degradante espetáculo circense fez a alegria da súcia bolsonarista, mas a repercussão do episódio foi a pior possível.

    Nesta quinta-feira (5), ao deixar a residência oficial da Presidência, Bolsonaro voltou a atacar os jornalistas, como se a culpa pelos seguidos desarranjos do governo fosse da imprensa, que na opinião détraqué do presidente não sabe fazer jornalismo.

     
    “Parabéns à imprensa. Fiz piada com o PIB. Parabéns aí, valeu. Continuem agindo assim. Quando vocês aprenderem a fazer jornalismo, eu converso com vocês”, disse Bolsonaro, que continuou provocando os profissionais da imprensa.

    “Se vocês sofrem ataque todo dia, o que vocês estão fazendo aqui? O espaço é público, mas o que vocês estão fazendo aqui? O dia que vocês (se) conscientizarem que vocês são importantes fazendo matérias verdadeiras, o Brasil muda”, emendou o presidente da República, destilando mais uma vez se desapreço pela democracia.

    Se o governo avança aos tropeços apenas porque a cambulhada oficial se rende à fanfarronice palaciana, o problema é do presidente da República, não da imprensa que cumpre seu papel de informar à opinião pública o que de fato acontece no País.

    Bolsonaro deveria renunciar ao cargo, já que o desrespeito que dedica à Presidência da República chega a atentar contra o bom-senso. É fato que o presidente não aceita o contraditório porque alimenta-se no cocho do fascismo tupiniquim, como já está largamente provado, mas alguém que fala mal e escreve ainda pior não pode afirmar que os profissionais da imprensa não sabem fazer jornalismo.

    Talvez seja o caso de alguém avisar a Jair Bolsonaro de que ele deveria aprender a governar, o que não fez até agora, antes de tecer qualquer crítica à imprensa. Se o presidente acredita que comportamento típico de um desqualificado ajuda o Brasil em todos os sentidos, o melhor é alguém explicar que os efeitos colaterais de suas patacoadas são desastrosos.