Paulo Guedes volta a abusar da retórica insana para explicar o fracasso do PIB e a disparada do dólar

 
Caso adotasse o silêncio como regra, o ministro Paulo Guedes, da Economia, prestaria enorme serviço ao País, mas seu viés histriônico o impede de manter-se calado, evitando declarações absurdas e que impactam no mercado financeiro. Horas depois do espetáculo circense comandado pelo presidente da República à saída do Palácio da Alvorada para tentar o pífio desempenho da economia em 2019, Guedes disse, na quarta-feira (4), que o governo já esperava que o Produto Interno Bruto (PIB) ficasse na casa de 1%. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do ano passado ficou em 1,1%.

Como cidadão, Paulo Guedes pode faltar com a verdade quantas vezes quiser, mas na condição de ministro de Estado precisa lembrar que suas declarações ficam registradas. No começo do governo Bolsonaro, o ministro da Economia afirmou que em 2019 o PIB registraria crescimento de 2,5%. O tempo passou e, faltando poucos meses para o final do ano, o mesmo Guedes disse, depois de avanços e recuos, que o PIB encerraria o ano acima de 2%. E não foi exatamente isso que aconteceu. Se o Brasil fosse um país sério e o presidente da República tivesse coragem, Paulo Guedes já estaria demitido.

Nesta quinta-feira (5), depois de a moeda norte-americana encerrar os negócios cotada acima de R$ 4,65, Paulo disse ao deixar evento na Fiesp, na capital paulista, disse que a depender o dólar poderá chegar a R$ 5. “É um câmbio que flutua. Se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível (de R$ 5). Se eu fizer muita coisa certa, pode descer”, disse Guedes.

“(Com a as reformas), mais rápidos são retomados os investimentos, e o dólar acalma”, completou o ministro da Economia, que continua acreditando que o governo Bolsonaro é um amontoado de polichinelos.

 
Em relação ao fraco desempenho do PIB em 2019, Guedes não se fez de rogado e voltou ao tema: “Em vez de compararem a estimativa inicial e com uma estimativa inicial, as pessoas pegaram uma estimativa inicial e compararam com o que aconteceu no final do ano, depois revisão. Esperem até setembro e, se comparar, quem sabe (a economia) cresceu 1,4%”. Caso em setembro chegar-se à conclusão que em 2019 a economia cresceu 1,4%, será algo igualmente pífio.

O ministro tem garantido pela Constituição o direito à liberdade de pensamento, mas ultrapassa as fronteiras da irresponsabilidade afirmar que o dólar poderá chegar a R$ 5. Essa fala de Paulo Guedes pode ter soado ao mercado financeiro como um convite à especulação, já que a divisa ianque operou nas alturas ao longo da quinta-feira mesmo depois de dois leilões do Banco Central. Aliás, bom seria que alguém comunicasse ao ministro Paulo Guedes que questões relacionadas ao câmbio são de responsabilidade do presidente do BC, não a titular da Economia.

Sobre a possibilidade de o PIB deste ano registrar crescimento de 2% na esteira da aprovação das reformas administrativa e tributária, é importante ressaltar que isso depende de negociação, algo que o governo Bolsonaro sequer imagina o que seja. No tocante à reforma tributária, a que mais benefícios poderia trazer à economia, o Palácio do Planalto tem na contramão 27 governadores ávidos por recursos e que não pensam em perder receitas.