Panelaços contra e a favor de Bolsonaro mostram que situação do presidente não é das mais confortáveis

 
O UCHO.INFO decidiu aguardar os ponteiros do relógios ultrapassarem a marca das 21 horas para iniciar a redação desta matéria, até porque nossa atuação como veículo de imprensa sempre foi marcada pela isenção e pela independência, em que pese o fato de em determinados momentos termos nos posicionado jornalisticamente contra esse ou aquele governante. E se assim agimos é porque o momento exigiu.

Por dois dias seguidos, cidades brasileiras registraram panelaços contra o presidente Jair Bolsonaro, que, tudo indica, caiu em desgraça inclusive junto a parcelas não tão aguerridas de seu eleitorado. Se na terça-feira as manifestações foram ruidosas em várias capitais do País, o panelaço desta quarta-feira (18) superou com folga em termos de tempo e decibéis. Em algumas cidades as manifestações com o uso de panelas começaram por volta das 19h30, enquanto Bolsonaro concedia entrevista coletiva, no Palácio do Planalto, ao lado de autoridade e chefes de Poderes.

Por volta das 20 horas, trinta minutos antes do horário marcado, um barulhento panelaço tomou conta de várias cidades do País em protesto contra o presidente da República, com duração de mais de meia hora. Em São Paulo, maior cidade brasileira, o panelaço chegou a impressionar pelo barulho em muitos bairros, alguns deles considerados redutos bolsonaristas. Na região dos Jardins, por exemplo, zona nobre paulistana, os apoiadores de Bolsonaro tentaram reagir, mas logo perceberam que o esforço seria inútil.

Nesta quarta-feira, preocupado com os efeitos colaterais do panelaço do dia anterior, que deixou o núcleo duro do governo em estado de alerta, Bolsonaro escreveu em sua conta no Twitter: “O jornal Hoje (TV Globo) e Veja online, divulgam, de forma ostensiva, panelaço hoje às 20h30 contra o Presidente Jair Bolsonaro”.

 
Na entrevista concedida no Palácio do Planalto, o presidente classificou o panelaço contra o governo como movimento “espontâneo” e “expressão da democracia”. “Qualquer movimento por parte da população, eu encaro como expressão da democracia”, afirmou. “Nós, políticos, devemos entender como uma pura manifestação da democracia”, emendou o presidente.

Se o panelaço é um movimento espontâneo e expressão da democracia, como sugeriu Bolsonaro, convocar para o mesmo dia manifestação a favor do governo, como contraponto, não parece democrático nem mesmo espontâneo.

Como mencionado na abertura da matéria, decidimos aguardar o segundo panelaço, desta vez a favor de Bolsonaro, para concluir o texto. Além de vergonhoso – só não foi pífio porque os contrários ao governo voltaram a gritar – o panelaço pró-Bolsonaro deu a real dimensão do que o brasileiro deve esperar de agora em diante. Um presidente fraco, desacreditado e isolado, que cada vez mais apelará às fanfarronices para fazer a alegria da horda de apoiadores.

Chega a ser deprimente um chefe de Estado que começa a enfrentar o descontentamento da opinião pública ter de recorrer a expediente típico de quem foi dragado pelo torvelinho do desespero. O melhor que Bolsonaro poderia fazer, pensando no bem do País, é aceitar a realidade e tentar se redimir dos erros, buscando o caminho da humildade de fato e da concórdia. Do contrário, ser apeado da Presidência é o que lhe restará.