Não bastasse a grave crise que chacoalha o País por conta do célere avanço da pandemia do novo coronavírus, o entrevero diplomático patrocinado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) com o governo chinês acendeu a luz vermelha no Palácio do Planalto, onde assessores presidenciais preocupam-se com os desdobramentos de uma quase inevitável queda de braços com Pequim, caso não ocorra um pedido oficial de desculpas.
Depois de usar sua conta no Twitter para culpar a China pela pandemia do novo coronavírus, Eduardo Bolsonaro foi duramente rebatido pelo embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, que na rede social afirmou que o filho do presidente da República pode ter contraído um “vírus mental” em sua recente visita a Miami.
Para quem quase foi alçado ao posto de embaixador em Washington, Eduardo Bolsonaro demonstrou mais uma vez que jamais deveria ter abandonado a profissão de fritador de hambúrguer, sem nenhum demérito aos que fazem isso com competência e dedicação. Insultar o principal parceiro comercial do Brasil apenas para cumprir ordens da direita xucra norte-americana é sinal de subserviência típica de vira-lata.
Além disso, a China é um dos maiores investidores diretos no Brasil e foi a única nação a oferecer ajuda ao governo brasileiro no combate à epidemia do novo coronavírus. Mesmo assim, o filho do presidente da República acredita que pode fazer o que bem entender, apenas porque o pai aterrissou no Palácio do Planalto, o que não significa ser dono do País, é bom que se diga.
Em vez de se preocupar com as consequências da declaração de Eduardo Bolsonaro, o núcleo duro do governo deveria estar preocupado com a postura frouxa do presidente da República em relação aos filhos. O primogênito se envolve com milicianos e protagonizou o escândalo das “rachadinhas”, o segundo comanda o gabinete do ódio e por ser temperamental não aceita ser contrariado, o terceiro acredita ser o gênio da diplomacia e dispara impropérios por onde passa. Isso posto, o problema não está nos filhos, mas no pai, que não tem pulso e trata seus rebentos como intocáveis gênios da raça.
Em 24 de setembro de 2019, em sua primeira participação na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, Jair Bolsonaro envergonhou os brasileiros de bem com um discurso tosco e revanchista, que serviu apenas para agradar a sua sempre intolerante súcia de apoiadores.
Movido pelo revanchismo, Bolsonaro insistiu nas questões ligadas à ideologia, como se ele próprio não fosse refém do direitismo burro. Incompetente como político, o atual presidente só chegou ao poder central porque encontrou na sociedade brasileira uma nítida insatisfação com a esquerda, por isso agarrou-se ao discurso radical da direita para subir a rampa do Palácio do Planalto. Ou seja, Bolsonaro foi arrastado à Presidência pela ideologia.
Em um dos trechos do seu discurso na ONU, Bolsonaro afirmou: “A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu. E, com esses métodos, essa ideologia sempre deixou um rastro de morte, ignorância e miséria por onde passou.”
Se há alguém no planeta que não pode invocar o nome de Deus, esse certamente é Jair Bolsonaro, que por conta de suas bizarras convicções humilha o próximo com impressionante facilidade e torpeza. No tocante à ignorância, o presidente brasileiro também é desprovido de credenciais para abordar o tema, uma vez que sua delinquência intelectual chega a ser monumental.
O ponto fulcral dessa questão é que para o clã Bolsonaro a única ideologia que serve é a ideologia que o grupelho defende, sendo que a opinião alheia deve ser descartada de chofre. Se Jair Bolsonaro não tem coragem e moral para conter os filhos, não serão os generais palacianos a fazê-lo. Ou o Brasil dá um basta, ou os brasileiros começam a se acostumar com o pior.