Declaração desatinada de Eduardo Bolsonaro sobre coronavírus gera crise diplomática com a China

 
Delinquência intelectual parece estar no DNA da família Bolsonaro. Nesta quarta-feira (18), o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou, sem qualquer rubor facial, que “o governo está ganhando de goleada”. Passados quinze meses, nenhum brasileiro viu essa enxurrada de gols mencionada pelo chefe do Executivo, para quem a mitomania passou a ser algo comum.

Horas antes, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o fritador de hambúrguer que por pouco não foi guindado ao posto de embaixador em Washington, deu mostras que diplomacia não é o seu forte. Aliás, diplomacia não é a especialidade do clã presidencial.

Em postagem no Twitter, como se estivesse antecipando o desconforto pelo fracasso do panelaço em favor do pai presidente, Eduardo Bolsonaro não economizou palavras para culpar a China pela pandemia do novo coronavírus.

“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu o deputado na rede social.

Para quem um dia ousou colocar um pé no campo da diplomacia, Eduardo deveria saber que a China é o principal parceiro comercial do Brasil. E declarações desse naipe servirão para dificultar negociações futuras com o gigante asiático. Em 2019, a balança comercial brasileira com a China registrou superávit de mais US$ 30 bilhões de dólares: o Brasil exportou US$ 65,3 bilhões, e importou US$ 35,8 bilhões. Além disso, os chineses são uma das principais fontes de investimentos diretos no Brasil.

 
Considerando que, segundo a sabedoria popular, o fruto não cai distante da árvore, Eduardo Bolsonaro é tão ou mais arrogante que o pai. Por isso avançou em seu destampatório diplomático, afirmando: “A culpa pela pandemia de Coronavírus no mundo tem nome e sobrenome. É do Partido Comunista Chinês”.

Foi o bastante para o governo de Pequim reagir por meio do seu embaixador no Brasil. “A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos Deputados”, escreveu o embaixador Yang Wanming.

“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu status como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial. Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil”, acrescentou o diplomata chinês.

Segundo a mesma linha da resposta de Wanming, a Embaixada chinesa em Brasília usou sua conta oficial no Twitter para rebater as palavras de Eduardo Bolsonaro: “São extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”.

Que a família Bolsonaro é subserviente ao presidente dos Estados Unidos e aos interesses dos norte-americanos não é novidade, mas submeter o País a esse vexame diplomático apenas porque Trump deseja conter o avanço de Pequim na América Latina é muita disposição para “vira-lata”.