Bolsonaro diz que “gripezinha” não irá derrubá-lo, mas se nega a divulgar resultados de testes

 
Em sua devastadora ignorância, Jair Bolsonaro chega a ser cabotino, gostem ou não seus descontrolados apoiadores. No momento em que dezenas de milhões de pessoas ao redor do planeta estão em quarentena por conta da pandemia do novo coronavírus, o presidente da República diz que não será uma “gripezinha” a derrubá-lo, mas concede entrevistas usando máscara de proteção.

No momento em que especialistas em epidemiologia de distintos países afirmam que o isolamento social é a melhor arma para conter o vírus causador da Covid-19, Bolsonaro diz que não é hora de pânico.

No momento em que a epidemia avança a passos largos no País, deixando mortos pelo caminho e colocando o sistema público de saúde à beira do colapso, o mandatário brasileiro volta a afalar em histeria e tenta faturar politicamente com a crise.

Pois bem, se Bolsonaro está sendo rondado por uma “gripezinha”, como ele próprio disse em picaresca entrevista coletiva nesta sexta-feira (20) no Palácio do Planalto, não há razão para usar máscara somente em algumas ocasiões. Pelo fato de a epidemia do novo coronavírus não ser uma “gripezinha” é preciso adotar medidas restritivas que incomodam Bolsonaro e derretem seu projeto de reeleição. Por isso ele confunde pânico com ações responsáveis por parte dos governantes. Talvez o “pânico” esteja nele próprio em razão do desmantelamento do seu projeto político.

Como o presidente da República tem à disposição um aparato médico-hospitalar de ponta, custeado com o suado dinheiro do contribuinte, é fácil adotar um discurso tosco e delinquente que induz o cidadão a desrespeitar as regras impostas em estados e municípios. É preciso reconhecer que para a extensa maioria, que não está acostumada, o isolamento é um período difícil, principalmente por conta da adaptação, mas é muito melhor essa provação do que o palavrório insano e covarde de Bolsonaro. É “menos ruim” a penúria financeira que acena para muitos brasileiros do que a sala do velório da esquina, até porque a vida não tem preço.

Quando compara a epidemia do novo coronavírus a uma “gripezinha”, Bolsonaro dá mostras de que não tem cabedal sequer para ser porteiro do lupanar do bairro. Ao fazer isso, induz o desavisado a não adotar os cuidados devidos, correndo o risco de ser contaminado por um vírus desconhecido e que pode levar o paciente à morte, não apenas os idosos e os com comorbidades. Para piorar, se o cidadão que acreditou nas falácias de Bolsonaro for infectado pelo novo coronavírus e precisar do SUS, concluirá que o chefe da nação é um apasquinado que só tem olhos para os próprios interesses.

 
Se o novo coronavírus realmente causasse uma “gripezinha”, os hospitais não estariam a realizar testes para identificar a contaminação. Aliás, Jair Bolsonaro já realizou dois testes para o vírus causador da Covid-19 e disse que ambos apresentaram resultados negativos. Mesmo assim, ele se nega a apresentar os laudos dos respectivos exames.

O presidente afirmou novamente que, sob orientação médica, poderá fazer novo exame. Horas antes, ele disse que pode ter contraído o vírus “Fiz dois testes, talvez faça mais um até, talvez, porque sou uma pessoa que tem contato com muita gente. Recebo orientação médica”, disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã. “Toda família deu negativo aqui em casa. Talvez eu tenha sido infectado lá atrás e nem fiquei sabendo. Talvez. E estou com anticorpo”, declarou um presidente que não sabe governar e acredita ser especialista em imunização.

Sabujo de plantão, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, saiu em defesa de Bolsonaro diante das perguntas sobre eventual apresentação dos resultados dos testes para o vírus. “Os exames do paciente são do paciente. São da sua intimidade. A gente não faz divulgação nem do seu, nem do meu, nem do de ninguém”, disse Mandetta.

Reconhecemos a privacidade do paciente, que só pode ter seus dados (médicos, hospitalares e laboratoriais) revelados mediante autorização, mas no caso em questão trata-se da autoridade máxima do País, que poderia dar publicidade aos resultados para evitar especulações, principalmente porque 22 integrantes da comitiva que o acompanhou na viagem a Miami (EUA) foram infectados pelo vírus.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizou teste para o novo coronavírus e a Casa Branca exibiu laudo assinado pelo médico do mandatário norte-americano, o qual atesta que o resultado é negativo. Se o chefe da maior economia do planeta tomou essa atitude, Bolsonaro não deveria ter tanta dificuldade para imitar o gesto. Só não o faz porque tenta “vender” aos seus aduladores a falsa ideia de que é a versão tropical e chicaneira do “Super-Homem” ou porque teme que a economia brasileira vá muito além do ralo.

Aliás, a crise do novo coronavírus está sendo vista como a tábua de salvação do ministro Paulo Guedes – de “Posto Ipiranga” nada tem –, e do próprio Bolsonaro, já que, em pouco meses, ambos não teriam como explicar à população a pasmaceira da economia nacional. Com o cenário dominado pela pandemia, a culpa é do vírus. Mesmo assim, a diplomacia brasileira quer que o governo de Pequim peça desculpas.