Novo formato de entrevistas sobre o coronavírus revela que Mandetta está por um fio e flerte com ditadura

 
Muito se falou nos últimos três dias sobre a possível demissão de Luiz Henrique Mandetta, ainda ministro da Saúde. O UCHO.INFO usa o termo “ainda” porque sua saída é questão de tempo, já que o presidente da República, um autoritário confesso, não aceitará por muito tempo ser contrariado publicamente, vendo sua imagem tosca e détraqué derreter junto à opinião pública. Além disso, Jair Bolsonaro precisa da postura radical e bizarra para manter unida sua claque.

Ao determinar o fim das entrevistas diárias concedidas pelo Ministério da Saúde e transferência das informações para o Palácio do Planalto, Bolsonaro interferiu diretamente na atuação de Mandetta, cujo protagonismo vinha irritando sobe maneira o chefe do Executivo. No novo formato, criado para passar ao público a sensação de união dos membros do governo, alguns ministros fazem papel meramente decorativo, já que as informações fornecidas são de pouco interesse da população, que tenta escapar das garras de um inimigo desconhecido.

Responsável por coordenar o grupo de ministros envolvidos na “guerra” contra o novo coronavírus, o general da reserva Walter Braga Netto, chefe da Casa Civil, garantiu que no momento o governo não cogita demitir o ministro da Saúde. “Não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta. Isso aí está fora de cogitação, no momento, está certo?”

Mandetta, por sua vez, ao tomar o microfone na entrevista palaciana, rebateu Braga Netto com a necessária coerência, já que o meio político é uma eterna caixa de Pandora quando o assunto é demissão e traição. “Em política, quando a pessoa fala não existe, o professor já fala existe”, disse o ministro da Saúde, em clara posição de enfrentamento.

 
Momentos antes, em clara disposição de contrariar Bolsonaro, o ministro pediu para que todos sigam a recomendação dos governos estaduais no tocante ao combate ao novo coronavírus. “Por enquanto mantenham a recomendação dos Estados, porque essa é no momento a medida mais recomendável, já que nós temos muitas fragilidades no sistema de saúde, que são típicas não de falta do ministério da saúde ou do governo”, afirmou Mandetta.

No momento em que Luiz Henrique Mandetta foi questionado por jornalistas se a recomendação de manter o isolamento valeria também para o presidente da República, que no domingo (29) deixou o Palácio da Alvorada para fazer um “passeio” pelo setor Sudoeste de Brasília e por Ceilândia e Taquatinga, regiões do Distrito Federal, a entrevista foi interrompida de forma abrupta.

Antes de os demais ministros que participaram da entrevista deixassem a sala, permitindo que Mandetta apresentasse dados atualizados sobre o novo coronavírus no País, o chefe da Casa Civil cochichou no ouvido do titular da Saúde, que não mais respondeu às perguntas dos jornalistas. Em outras palavras, o Brasil acelerou o passo na direção da ditadura.

A queda de braços entre Bolsonaro e Mandetta intensificou-se nas últimas horas e não irá muito além. A demissão do ministro da Saúde é questão de horas, o que poderá colocar o País em situação de extremo perigo, já que nenhum profissional da saúde, submetendo-se às vontades esdruxulas de Bolsonaro, se responsabilizará por centenas de mortes. Fosse o Brasil um país minimamente sério, o presidente já estaria respondendo civil e criminalmente por descumprir as recomendações dos cientistas e dos profissionais da saúde.