Bolsonaro deveria deixar o populismo de lado e parar com essa enlouquecida “paixão” pela cloroquina

 
Causa estupefação o esforço descomunal que os bolsonaristas fazem para, a reboque de qualquer parca oportunidade, incensar Jair Bolsonaro, governante tosco e despreparado que avança sem cerimônia na seara do opróbio.

Sem ter mostrado até o momento a que veio, o presidente da República, que com o passar das horas se isolada politicamente cada vez mais, busca em meio à crise sanitária gerada pelo novo coronavírus uma tábua de salvação que consiga transformá-lo em derradeiro salvador do universo. Contrariando a ciência de maneira torpe na questão do isolamento social, Bolsonaro tenta se recuperar dos seguidos vexames com a tese ainda não comprovada do uso da hidroxicloroquina no combate à Covid-19.

Até o momento, não há qualquer comprovação científica a respeito da eficácia dessa droga no combate ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), medicamento utilizado no tratamento de doenças como lúpus, malária e artrite reumatoide, mas que provoca efeitos colaterais. Ou seja, o uso indiscriminado é perigoso, o que levou a Anvisa a determinar que venda do medicamente seja feito apenas com receituário médico.

No afã de avançar com seu bizarro projeto, Bolsonaro usou as redes sociais para cobrar do médico infectologista David Uip sobre eventual uso da hidroxicloroquina durante o tratamento contra o novo coronavírus. Uip foi infectado pelo vírus causador da Covid-19 e permaneceu em isolamento por duas semanas, até ser liberado pelos médicos.

 
O jornalista José Luiz Datena, apresentador do programa sensacionalista “Brasil Urgente”, da Band, emissora de televisão que faz as vontades do Palácio do Planalto, questionou David Uip, durante entrevista, sobre eventual uso de cloroquina. O infectologista se recusou a responder, até porque qualquer minimamente médico responsável não cometeria essa insanidade.

A negativa de David Uip foi suficiente para que os bolsonaristas concluíssem que o infectologista fez uso da hidroxicloroquina, como se possuíssem bolas de cristal. Antes de estrear na profissão, o médico faz o Juramento de Hipócrates, que contempla, entre tantos compromissos, a promessa de manter sob sigilo os dados do paciente. Além disso, Uip, por questões éticas e de segurança, jamais poderia revelar seu tratamento, pois induziria algumas pessoas à automedicação. Se o médico reprova a automedicação, David Uip agiu corretamente ao não revelar o tratamento a que se submeteu.

Existir é um ato que exige coerência, ingrediente que não existe entre os bolsonaristas, haja vista o comportamento esdruxulo do líder da seita. O uso da hidroxicloroquina, conjuntamente com a droga azitromicina, em pacientes que contraíram o novo coronavírus só é possível em ambiente hospitalar em razão dos efeitos colaterais, entre os quais arritmia cardíaca. Além disso, esse tratamento, ainda experimental, não pode ultrapassar o período de cinco dias.

Se os apoiadores de Jair Bolsonaro contestam a postura do infectologista por não ter revelado se fez uso de cloroquina, que cobrem do presidente da República a divulgação dos resultados dos dois testes para o novo coronavírus, realizados no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, que até o momento não cumpriu determinação da Justiça de informar os dados. Além disso, o presidente poderia usar os próprios assessores infectados pelo novo coronavírus como cobaias.

Não custa lembrar a esses desvairados apoiadores de Bolsonaro que, como reza a sabedoria popular, “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”.