Após demissão de Mandetta, “gabinete do ódio” do governo tentará desconstruir imagem do ex-ministro

 
Assim como Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro tenta “sair das cordas” no ringue da crise do novo coronavírus para encontrar um culpado pelos efeitos colaterais da pandemia, que poderiam ser minimizados se a coerência e o bom-senso tivessem espaço nesse cenário de caos.

Ciente de que o próprio governo está na UTI e respirando politicamente por aparelhos, Bolsonaro arma nos bastidores, sem a certeza do êxito, uma estocada final contra Luiz Henrique Mandetta, que nas próximas horas será despejado do Ministério da Saúde apenas porque decidiu seguir o que manda a ciência. Ou seja, um caso inédito, mas possível nessa república bananeira em que se transformou o Brasil.

A estratégia rasteira do Palácio do Planalto, esculpida com o cinzel da covardia no “gabinete do ódio”, é desqualificar Mandetta ao máximo para que Bolsonaro saia do episódio na condição de vítima de um ministro que se recusou a cumprir as ordens de um déspota e ególatra.

O plano, típico de pulhas, já está em marcha nas redes sociais, onde falácias associam o ministro da Saúde a pessoas de renome internacional, como o empresário norte-americano Bill Gates, apenas porque o cofundador da Microsoft criticou a decisão de Trump de suspender repasses de recursos à Organização Mundial da Saúde (OMS).

 
Também nas redes sociais começam a surgir insinuações maldosas de que compras de insumos para o combate ao novo coronavírus foram marcadas por superfaturamento e cobrança de propinas na distribuição de equipamentos hospitalares a determinados municípios. Acontece que nada do que tem sido divulgado de forma criminosa tem prova, ou seja, são ilações torpes com o intuito de salvar um desqualificado chamado Jair Bolsonaro.

Qualquer que seja o escolhido para comandar o Ministério da Saúde, a estratégia de combate ao novo coronavírus continuará tendo como ponto central o isolamento vertical, única arma eficaz contra a Covid-19. Parece que a cúpula do governo Bolsonaro tem dificuldade para compreender o que significa achatamento da curva de infectados, o que permite o atendimento médico-hospitalar a maior número de pessoas com o avanço do tempo.

Ora, se todos os cotados para assumir a pasta da Saúde defendem a mesma medida adotada por Luiz Henrique Mandetta, ou seja, embasada na ciência, a demissão do ministro não está a acontecer por questões técnicas, mas por razões políticas.

Como nove entre dez incompetentes, Bolsonaro busca compensação no histrionismo, o que explica seu monumental incômodo com a exposição de Mandetta – e consequente aprovação popular – em maio à pandemia do novo coronavírus. O presidente deveria tirar proveito da popularidade do ministro da Saúde, até porque a escolha foi sua, mas sua vaidade, misturada à ignorância, não permite.

Resumindo, os brasileiros de bem, os não abduzidos, que se preparem, pois a ópera bufa há de continuar por muito tempo, até que o novo coronavírus decida dar uma trégua. Até lá, Bolsonaro tentará posar como salvador do universo.