Com a anuência de Bolsonaro, repórteres são agredidos em manifestação diante do Palácio do Planalto

 
Desde a corrida presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirma que Jair Bolsonaro é despreparado e desprovido de estofo para cargo de tamanha importância e responsabilidade como a Presidência da República. Afirmamos também nesse período que Bolsonaro em algum momento ameaçaria a democracia e o Estado de Direito para fazer valer suas vontades, sempre absurdas e marcadas pelo totalitarismo.

Neste domingo (3), bolsonaristas, que participavam de manifestação convocada pelas redes sociais em apoio ao governo e estimulada pelo próprio Bolsonaro, agrediram, ameaçaram e expulsaram jornalistas que cobriam o ato diante do Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República.

Enquanto Bolsonaro acenava para os apoiadores, um grupo a agredir verbalmente o fotógrafo Dida Sampaio, do jornal “O Estado de S. Paulo”, que registrava imagens do presidente na rampa do palácio presidencial.

O fotógrafo Dida Sampaio foi covardemente derrubado por duas vezes e chutado pelas costas, além de ser agredido com socos no estômago. O fotógrafo Orlando Brito, outro destacado nome do fotojornalismo nacional, também foi agredido fisicamente. Vários repórteres e profissionais de imprensa que cobriam o evento foram empurrados e atacados verbalmente pelos manifestantes, como se o Brasil estivesse passando por um processo de “venezualização”.

Alertado por assessores de que profissionais da imprensa estavam sendo agredidos verbal e fisicamente, Bolsonaro nada fez para impedir a barbárie, que configura um atentado contra a democracia. Ao mesmo tempo, Bolsonaro foi alertado, segundo imagens transmitidas pela live de sua rede social, da confusão envolvendo jornalistas.

“Expulsaram os repórteres da Globo, expulsaram os repórteres”, disse um assessor ao presidente. “Pessoal da Globo vem aqui falar besteira. Essa TV foi longe demais”, respondeu Bolsonaro, sem repudiar as agressões aos jornalistas.

 
Mais cedo, Bolsonaro disse ter chegado ao seu limite e que não mais aceitará interferências no governo. O presidente fez referência às decisões do Congresso Nacional e do Supremo tribunal Federal (STF). O fato de ter prestigiado um com críticas ao STF, ao Congresso, a Rodrigo Maia e a Sérgio Moro mostra que a semana que começa será de muita agitação política.

“Vocês sabem que o povo está conosco, as Forças Armadas ao lado da lei, da ordem, da democracia, liberdade também estão ao nosso lado. Vamos tocar o barco, peço a Deus que não tenhamos problema nessa semana, porque chegamos no limite, não tem mais conversa, daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço. Amanhã nomeados novo diretor da PF, e o Brasil segue seu rumo”, declarou Bolsonaro em transmissão pelas redes sociais.

Bolsonaro insiste em “esticar a corda” diariamente para, criando factoides na esteira da política do enfrentamento, testar a capacidade de resistência dos atores dos outros Poderes da República. No momento em que enfrenta o avanço da pandemia do novo coronavírus, o Brasil poderá ser palco de medidas duras para preservar a democracia e garantir e inviolabilidade do Estado de Direito.

A continua persistindo nessa tese burra de inflamar sua horda de apoiadores para eventualmente intimidas os outros Poderes e principalmente os adversários, Bolsonaro acabará alvo de um processo de interdição, como já sugeriu o renomado jurista Miguel Reale Júnior, já que o País não pode ficar à espera de um processo de impeachment.

Repercussão

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, usou sua conta no Twitter para defender a liberdade de imprensa e o jornalismo profissional como forma de combater “a mentira, o ódio e a intolerância”. “Dia da liberdade de imprensa. Mais que nunca precisamos de jornalismo profissional de qualidade, com informações devidamente checadas, em busca da verdade possível, ainda que plural. Assim se combate o ódio, a mentira e a intolerância”, escreveu Barroso.

Também na rede social, o PSDB condenou o ataque aos jornalistas. “Criminosos agridem jornalistas em manifestação a favor do presidente e contra o Brasil. O nosso repúdio”, destacou a legenda.

Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio também criticou a postura do presidente da República e os ataques à imprensa e aos Poderes constituídos. “No dia em que o Brasil deve ultrapassar 100 mil casos de Covid-19 e 7 mil mortos, é lamentável e decepcionante que o presidente Jair Bolsonaro demonstre, mais uma vez, o seu apoio a movimento que está na contramão das orientações das autoridades de saúde. Além disso, quem verdadeiramente defende a democracia não participa ou aceita manifestações onde a imprensa é agredida e que atacam o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, que são seus pilares”, escreveu Sampaio no Twitter.