Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro prestou depoimento à Polícia Federal, no sábado (2), por quase nove horas, em Curitiba. O depoimento ocorreu no âmbito do inquérito aberta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente Jair Bolsonaro, acusado pelo ex-juiz da Lava-Jato de tentar interferir politicamente na PF.
O ministro Celso de Mello, do STF, responsável pelo inquérito, determinou na última quinta-feira (30) que Sérgio Moro testemunhasse no prazo máximo de cinco dias, após as graves acusações contra Bolsonaro.
Moro chegou por volta das 13h15 à sede da Superintendência da PF em Curitiba, tendo deixado o prédio da corporação por volta da meia-noite, sem falar com os jornalistas.
O ex-juiz respondeu a perguntas de delegados da PF, que foram acompanhados por três procuradores escalados para acompanhar as diligências pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, responsável pelo pedido de abertura do inquérito. A oitiva foi conduzida pela delegada Christiane Correa Machado, chefe do chamado Serviço de Inquéritos Especiais (Sinq), que apura investigações em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF).
No depoimento, Moro, repetindo o que disse na entrevista coletiva em que anunciou sua demissão do cargo em 24 de abril passado, ratificou que o presidente da República tentou por diversas vezes interferir politicamente na Polícia Federal, com o intuito de blindar aliados e familiares.
O ex-ministro entregou à PF provas contra Bolsonaro e colocou à disposição seu celular para que os investigadores tenham acesso às conversas mantidas por ele em aplicativos de mensagens com o presidente da República e integrantes do governo.
Horas após deixar o Ministério da Justiça, Moro disponibilizou ao Jornal Nacional, da TV Globo, uma troca de mensagens com Bolsonaro, em que o presidente cobra a troca do comando da Polícia Federal após citar uma investigação envolvendo aliados do governo. No sábado, em Curitiba, o ex-ministro apresentou novas provas à PF, além das mensagens já divulgadas pela imprensa.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) havia solicitado que Moro, durante o depoimento, fizesse uma “manifestação detalhada sobre os termos do pronunciamento [que anunciou sua demissão], com a exibição de documentação idônea que eventualmente possua acerca dos eventos em questão”.
O advogado do ex-ministro, Rodrigo Sanches Rios, informou em nota que, “como a investigação está em andamento, nossa manifestação será apenas nos autos”.
Horas antes de o ex-ministro começar seu depoimento à PF, o presidente Jair Bolsonaro referiu-se a Moro como “Judas”. Neste domingo, em aparente referência à fala do presidente da República, Moro escreveu no Twitter: “Há lealdades maiores do que as pessoais”.
Em entrevista à revista “Veja” na última quinta-feira, Sérgio Moro afirmou que não admite ser chamado de mentiroso e disse ter provas contra Bolsonaro. “Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar”, afirmou.
Logo após o depoimento do ex-ministro à PF, integrantes do núcleo duro do governo Bolsonaro reuniram-se em Brasília para discutir uma nova estratégia para tentar neutralizar as acusações de Moro, já que o ataque que vinha sendo feito pelas redes sociais mostra-se insuficiente diante das provas apresentadas durante a oitiva.
Depois de 22 anos de magistratura, Moro sabe ser temerária uma acusação sem provas. Por conta desse princípio basilar do Direito, os palacianos passaram a considerar o depoimento do ex-ministro como uma declaração de guerra, que não deverá ser fácil e tampouco acabará logo. Bolsonaro terá de se preparar para o pior, pois, segundo consta, as provas são incontestáveis.