Matérias do UCHO.INFO fizeram da Superintendência da PF em Pernambuco uma preocupação para Bolsonaro

 
A situação do presidente Jair Bolsonaro no âmbito do imbróglio envolvendo a nomeação do novo diretor-geral da Polícia Federal torna-se cada vez mais difícil. Esse cenário de piora acelerada passa obrigatoriamente pelo jornalismo do UCHO.INFO, que, sabem os leitores, é independente e não protege político ou governante, não importando a corrente ideológica.

Eleito sob o discurso do implacável combate à corrupção, Bolsonaro está prestes a ver sua bandeira de campanha derreter à sombra do depoimento do ex-juiz Sérgio Moro à Polícia Federal, em Curitiba, no escopo do inquérito aberto no STF e sob a tutela do ministro Celso de Mello.

Moro detalhou à PF as tentativas do presidente da República de interferir politicamente na corporação, o que por si só configura crime e abre caminho para pedido de impeachment. Em um dos trechos do depoimento, que durou quase nove horas, o ex-juiz disse que Bolsonaro vinha demonstrando estranho interesse pelas superintendências da PF no Rio de Janeiro e em Pernambuco.

Destaca o depoimento em dado trecho: “QUE depois, porém, entendeu que também não poderia aceitar a troca do SR/RJ sem causa; QUE a partir de então cresceram as insistências do PR para a substituição tanto do Diretor Geral quanto do SR/RJ; QUE, certa feita, provavelmente, no mês de março o PR passou a reclamar da indicação da Superintendente de Pernambuco; QUE essas reclamações sobre o superintendente no Estado de Pernambuco não ocorreram anteriormente; QUE entende que os motivos da reclamação devem ser indagados ao Presidente da República; QUE é oportuno destacar que as indicações para Superintendentes vêm da Direção Geral, mas passam pelo crivo da Casa Civil e que não houve nenhum óbice apontado em relação a esses nomes;”…

Outro trecho do depoimento de Sérgio Moro merece destaque: “QUE o Declarante, em relação ao trabalho da Polícia Federal, informava as ações realizadas, resguardado o sigilo das investigações; QUE o Declarante, por exemplo, fazia como ministros do passado e comunicava operações sensíveis da Polícia Federal, após a deflagração das operações com buscas e prisões; QUE o Declarante fez isso inúmeras vezes e há mensagens de Whatsapp a esse respeito ora disponibilizadas; QUE ilustrativamente, isso aconteceu após as buscas e prisões envolvendo o atual Ministro do Turismo e o Senador Fernando Bezerra, mas que essas informações não abrangiam dados sigilosos dos inquéritos;”…

 
Em que pese o fato de, como juiz, ter ultrajado a legislação vigente no País para, em alguns casos específicos, alcançar a condenação de alguns denunciados pela Operação Lava-Jato, Sérgio Moro ascendeu ao Ministério da Justiça como símbolo do combate à corrupção. E foi no rastro desse propósito que surgiu o embate entre o então ministro e o presidente da República por causa da Superintendência da PF em Pernambuco.

Há alguns meses, durante reunião no Ministério da Justiça, Moro recebeu um dossiê sobre esquema de corrupção no setor de mineração. O tal dossiê, devidamente encadernado, é composto em sua extensa maioria por matérias do UCHO.INFO que trazem gravíssimas denúncias sobre desmandos e crimes cometidos no setor de mineração, com a aquiescência de autoridades do Palácio do Planalto nos tempos do governo Temer.

Para conseguir dose mínima de apoio político no Congresso Nacional, em particular no Senado Federal, Bolsonaro concordou com a sequência do esquema criminoso de dilapidação da mineração, que continua sendo capitaneado pela mesma quadrilha de antes. Então ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz soube do ilícito com antecedência e ensaiou uma tomada de providências, o que pode ter acionado seu processo de demissão.

Quem acompanham a política brasileira com maior proximidade sabe que ser mais difícil detectar esquemas de corrupção no setor da mineração, onde a concessão de lavra, a depender do potencial minerário, pode valer algumas dezenas de milhões de reais. E a atividade ilícita continua correndo solta no governo Bolsonaro, com o conhecimento dos palacianos.

Durante o governo do então presidente Michel Temer, muitas foram as matérias do UCHO.INFO denunciando irregularidades e desmandos no setor da mineração, à época sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão que foi substituído no apagar das luzes pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Algumas das nossas reportagens levaram integrantes da cúpula do governo de outrora ao desespero, pois na ocasião acabou identificando os operadores do esquema criminoso.

Recentemente, uma nova matéria do UCHO.INFO, desta vez sobre a atuação delinquente de autoridades para prejudicar empresa carbonífera de Santa Catarina, provocou pânico entre os políticos envolvidos no esquema criminoso que, segundo apuramos, renderá verdadeira fortuna aos partícipes. Durante reunião na Casa Civil, à época sob o comando de Onyx Lorenzoni, o assunto veio à baila e o clima de pânico se instalou diante da nossa matéria jornalística. Para quem não quer forçar a massa cinzenta, basta checar a estrutura da cúpula do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Mineração (ANM).