Liderança necessária (que não temos)

(*) Gisele Leite

Enfim, mais um questionamento se renova: o que se espera de um líder? Não basta o líder corresponder às expectativas organizacionais, mas, também a de seus parceiros e liderados, deve enfocar os resultados, buscar a vitória e consecução de empreitadas, além de exercer a autoridade sem desrespeitar as pessoas e suas emoções.

Novo questionamento angustiante nos assola: o que se espera do líder da Nação, principalmente diante de uma pandemia? Sem dúvida, essa é a maior crise da história brasileira.

Depois da pandemia redimensionaremos tudo, a vida definitivamente será outra. Endossa tal entendimento a chanceler Ângela Merkel da Alemanha e, também o escritor israelense Yuval Harari e, ainda, o sociólogo Domenico de Masi.

Mas, infelizmente, nosso atual presidente da república não acompanha esse entendimento. É provável que no pós-crise haja uma majoração da consciência social e da importância de lideranças públicas. Mesmo aqueles que encararam o enfrentamento da pandemia de forma positiva, apesar do sério risco de impopularidade em nome da preservação de vidas, terá melhor avaliação do que aqueles que simplesmente negaram sua relevância e sua dimensão. E adotaram posturas imediatistas e infantis.

A vantagem das grandes crises é revelar líderes vencedores que escreverão seu nome na história, enquanto que outros, serão apenas exemplos negativos para a posteridade esquecer, ou então, para inspirar alguma comédia.

Faz-se necessário perceber que líderes são pessoas capazes de orientar e influenciar outras pessoas ou grupos, que as reconhecem como tal. Trata-se de um conceito complexo, bem mais que ser eleito por uma maioria, pois o líder é um condutor que traz o resultado esperado, agregando valores e, seguindo procedimentos escorreitos e planejados ou intuitivos, sem haver truques nem atalhos.

Por fim, deve ter uma qualidade especial para obter o nível máximo de excelência, é ser aquele que reúne todas essas capacidades, sem se esquecer, da humildade. Porém, a cada encontro com a imprensa brasileira, há um festival bizarro de deselegâncias e grosserias. A Nação necessita de haver um líder que ajude a caminhar com seriedade, mas sem pânico e nem chacota. Ainda mais quando a estabilidade e as referências anteriores desaparecem no torvelinho da crise.

Nem sempre as crises podem ser previstas para que previamente se possa obter o preparo mínimo para se enfrentar e superá-las; eis que seja umas tarefas do líder. As crises são cíclicas e, acontecem, repetitivamente, de tempos em tempos. E, se sucedem, sem esquecer o rico legado da aprendizagem que sempre deixam.

O bom líder procura pesquisar a dimensão do problema e com o devido equilíbrio e realismo planeja atuações, para possa ter, enfim, uma panótica do que está ocorrendo e, deve ser um interlocutor sereno, sério e frequente. E, não parecer um imaturo que se sente provocado a cada simples pergunta feita diante das coletivas da imprensa.

Ou aquele que simplesmente demonstra indiferença diante graves resultados da crise: E daí?

Para ser líder, se faz necessário criar e ter empatia com toda a sociedade, ouvir as orientações dos técnicos, sejam nacionais ou estrangeiros, acalmar os ânimos, envidar esforços para resolver questões importantes e, estimular a solidariedade entre as pessoas, que se possa reconstruir a credibilidade no setor público, fortalecer a sociedade civil através de seus profissionais e cientistas particularmente, os da saúde e da economia. Os meios de comunicação são aliados poderosos, pois a informação é uma commodity preciosa pois, também a desinformação mata tanto quanto a virose (i).

São diversas as responsabilidades de um líder e, principalmente, a de olhar além da crise e antever o futuro, quando finalmente a crise passar. Quais ativos serão necessários e importantes? Quais serão as alianças estratégicas e como arregimentar os recursos para o enfrentamento sóbrio e organizado?

O momento deve priorizar o atendimento dos mais vulneráveis, por isso, foi uma medida salutar e útil a criação do Benefício Emergencial, em pleno feriado de Tiradentes, agências da Caixa Federal Econômica (CEF) abrem para atender de 8 às 12 hs as pessoas que precisam ser salvas, seja da pandemia ou mesmo da falta de gestão adequada da crise. Ampliou-se até o horário de atendimento ao público, em face da premência da situação dos aflitos. Meus parabéns aos gestores da CEF S/A! Esses são brasileiros que atuam e conhecem a liderança adequada.

Afinal, se conseguirmos vencer o coronavírus, também conseguiremos a ausência de liderança adequada conseguiremos vencer. Apesar de haver posses praticamente às escondidas (ii) e o empossado líder ameaçar toda a democracia brasileira com suas bravatas de praxe e seu mau-gosto inesgotável.

Em tempo, devemos render as sinceras homenagens aos profissionais da imprensa que merecem ser respeitados por desempenhar tão relevante papel para democracia brasileira e para povo brasileiro que tem direito à verdade dos fatos para formarem suas opiniões.

(i) Recentemente no domingo dia 03 de maio de 2020, num fatídico domingo, dois jornalistas foram espancados durante uma manifestação contra a Congresso Nacional e o STF, propondo um novo AI-5. Onde novamente participou esfuziante o então presidente, agora, ao lado de sua filha mais nova (a quem publicamente já se referiu como uma “rateada” pois antes só teve filhos do sexo masculino. Justamente no dia que se comemorava o dia internacional da liberdade de imprensa, o prêmio da imprensa brasileira foi ser ofendida e espancada por bolsonaristas.

(ii) Deve-se sublinhar que a polícia federal é órgão do Estado e não do governo e, portanto, nesse sentido o Ministro do STF Alexandre de Moraes, reconhecido constitucionalista e doutrinador provocado por mandado de segurança de autoria do PDT, suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para a chefia da Polícia Federal que seria no dia 20.04.2020. E, a fundamentação fora o óbvio desvio de finalidade do ato presidencial, em inobservância explícita de princípios constitucionais tais como a impessoalidade, da moralidade e do interesse público. A decisão liminar do Ministro relator dividiu opiniões. Mas, logo no dia seguinte, a nomeação impugnada fora tornada sem efeito, sendo sua exoneração da Abin igualmente cancelada.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não representando obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.