Vídeo que Bolsonaro resiste a entregar ao STF tem Weintraub dizendo que na Corte há “11 filhos da puta”

 
A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), um novo ofício – é o terceiro – em que pede para que o magistrado não divulgue a íntegra do vídeo requisitado no âmbito da investigação sobre as acusações feitas por Sérgio Moro ao presidente da República. Esse comportamento ziguezagueante da AGU não apenas demonstra que o desespero se instalou no Palácio do Planalto, mas comprova que o vídeo realmente existe e está preservado na íntegra.

Na quinta-feira (7), o chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, ignorando as lições que aprendeu na caserna até alcançar o generalato, prestou-se ao papel pequeno de afirmar que nem sempre as reuniões ministeriais são gravadas e quando isso acontece o registro das imagens são parciais. Em outras palavras, um general querendo dar um “passa moleque” na mais alta instância do Judiciário.

Na manifestação ao Supremo, a AGU requer ao ministro Celso de Mello que seja definida de maneira prévia a “cadeia de custódia” do vídeo após sua entrega – os defensores da Presidência querem saber por quais setores e servidores públicos o vídeo será submetido para a necessária análise, como forma de evitar possíveis vazamentos. A AGU também solicita ao magistrado que recomende à PF “realizar a segregação dos elementos que sejam pertinentes daqueles que não sejam pertinentes ao Inquérito em epígrafe para o fim de juntada definitiva dos primeiros aos autos”.

A determinação para a entrega do vídeo, cujo prazo termina no sábado (9), tem provocado constrangimento no Palácio do Planalto. Isso porque no dia 22 de abril, data da fatídica reunião em que Moro teria sido ameaçado de demissão, o presidente da República estava com o nível de mau humor acima do normal e o encontro foi marcado por discussões entre ministros, ataques à China e palavrões e ofensas disparadas contra os ministros do STF pelo titular da Educação, Abraham Weintraub.

 
Na quinta-feira, a AGU havia solicitado ao ministro decano permissão para entregar somente trechos do vídeo, mas Celso de Mello sequer respondeu ao pedido. Em incursão anterior, a AGU solicitou ao magistrado que reconsiderasse a decisão que determina a entrega do material, sob a justificativa de que a reunião mostrava “assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de Relações Exteriores, entre outros”. O que não é verdade.

O que se sabe a respeito da tal reunião é que durante o encontro, além da ameaça de Jair Bolsonaro ao então ministro da Justiça, ocorreu uma enxurrada de palavras de baixo calão e a abordagem de assuntos delicados para um presidente eleito à sombra do discurso da ética e da moralidade. Entre esses temas espinhosos estão alguns relacionados aos acordos com o sempre famigerado “Centrão”, uma espécie de matilha da política nacional.

Além desses assuntos nada republicanos, a reunião foi aberta por Bolsonaro com menções pouco elogiosas à China. Contudo, o ponto alto da baixaria ficou a cargo de Abraham Weintraub, ministro da Educação, que ao se referir ao STF disse que a Suprema Corte é composta por “11 filhos da puta”.

Talvez essa pauta elegante e de sumo interesse do País tenha motivado o desnorteado e lunático Jair Bolsonaro a fazer uma visita repentina ao presidente do Supremo, Dias Toffoli, na quinta-feira, na esperança de que sua presença – e de ministros do governo e empresários – pudesse intimidar os integrantes da mais alta instância do Judiciário brasileiro.