Bolsonaro ataca a imprensa por conta dos gastos sigilosos com cartões corporativos da Presidência

 
O presidente da República, Jair Bolsonaro, continua acreditando que foi eleito dono do Brasil, por isso não aceita ser contrariado e ataca diuturnamente a imprensa por conta de notícias desfavoráveis ao governo, as quais, é importante ressaltar, apenas retratam a realidade dos fatos.

Nesta segunda-feira (11), em nova investida contra os órgãos de comunicação, Bolsonaro disse que noticiar a alta de gastos com cartões corporativos da Presidência é ‘falta de caráter dessa imprensa”. O presidente da República, como cidadão comum, pode externar seu pensamento e até criticar o trabalho da imprensa, mas na condição de chefe de Estado tem o dever de a transparência em relação aos atos do governo como pilar da democracia.

Bolsonaro tentou justificar a elevação de gastos sigilosos no início do ano com as despesas da operação de resgate de brasileiros em Wuhan, na China, em fevereiro deste ano, quando o gigante asiático ainda era o epicentro do novo coronavírus. A fatura referente aos quatro primeiros meses do ano foi de R$ 3,76 milhões, o dobro do valor médio pago no mesmo período nos últimos cinco anos.

“O que eu posso falar da China é que ontem a imprensa, como sempre, dá licença aí, a imprensa como sempre criticando o cartão corporativo”, afirmou o presidente, em frente ao Palácio da Alvorada, a uma apoiadora que questionou se o governo chinês está a esconder dados sobre a pandemia de Covid-19.

 
“Parte da operação da China, três avião da FAB, por ser avião militar, foi financiado com cartão corporativo meu. Apareceu eu usando o cartão para fazer festa. Falta de caráter e de responsabilidade dessa imprensa aí”, disse o presidente.

Os gastos com a operação que repatriou 34 brasileiros que estavam na China contém a rubrica de sigilo. Na última semana, o Palácio do Planalto deu versão diferente da apresentada por Bolsonaro a seus apoiadores. Ou seja, há algo estranho nesse enredo.

A mencionada fatura quadrimestral dos cartões corporativos (R$ 3,76 milhões) considera apenas valores gastos pela Secretaria Especial de Administração, responsável por despesas do presidente e de sua família, das residências oficiais e gastos cotidianos. Quando considerados outros órgãos vinculados à Presidência da República, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), por exemplo, o valor salta para R$ 7,55 milhões neste início de ano, montante 91% maior do que a média do mesmo período.

Coordenada pelo Ministério da Defesa, a Operação Regresso à Pátria Amada Brasil, que trouxe de volta os brasileiros que estavam na China e ocorreu entre 5 e 9 de fevereiro –envio e retorno dos aviões e 14 dias de confinamento dos resgatados na Base Aérea de Anápolis (GO) – custou R$ 4,6 milhões a não foi lançada nos gastos sigilosos do GSI.

Considerando que Bolsonaro elegeu-se presidente à sombra dos discursos da ética e da moralidade – apenas os incautos acreditaram naquele falacioso palavrório –, atacar a imprensa no caso em questão é desespero de quem tem algo a esconder. Aliás, para quem usava um apartamento funcional da Câmara dos Deputados, em Brasília, para “comer gente”, tudo é possível.