Bolsonaro surpreende Teich e inclui academias, salões de beleza e barbearias em atividades essenciais

 
Engana-se quem pensa que Jair Bolsonaro está preocupado com o retorno da atividade econômica, assim como o presidente da República pouca importância dá à vida dos brasileiros que tornaram-se reféns da pandemia do novo coronavírus. Na verdade, o que Bolsonaro intenta com suas decisões atabalhoadas e meramente populistas é criar frentes de conflito político para, mais adiante, colocar seus adversários contra a opinião pública.

Ciente de que a retomada da economia será um processo extremamente difícil e que isso impactará seu projeto de reeleição, o presidente tem ampliado a lista de atividades essenciais como forma de colocar seus concorrentes na eleição de 2022 em situação de desconforto político. O que em nada contribui para a operação de salvamento das vidas que correm risco por causa da Covid-19.

Nesta segunda-feira (11), Bolsonaro incluiu no rol de serviços essenciais durante a pandemia salões de beleza, barbearias e academias esportivas. Como, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a definição sobre o que pode funcionar durante o isolamento cabe a governadores e prefeitos, a atitude do presidente é inócua em termos pandêmicos, mas causa crispação política.

“Coloquei hoje, porque saúde é vida: academias, salão de beleza e cabeleireiro, também. Higiene é vida. Só três [foram definidas] hoje”, disse o presidente.

Bolsonaro disse ter em mente outras atividades para classificar como serviços essenciais, mas prefere aguardar para anunciá-las. “Essas três categorias ajudam mais de 1 milhão de empregos”, disse Bolsonaro.

 
O ministro da Saúde, Nelson Teich, participava de entrevista coletiva no Palácio do Planalto quando foi informado pelos jornalistas sobre a decisão de Bolsonaro, que anunciou o feito à porta do Palácio da Alvorada. Teich mostrou-se surpreso e disse não ter participado da decisão.

“Isso aí saiu hoje? É manicure, academia, barbearia? Não, isso aí não é. Acho que… Não passou, não é atribuição nossa. Isso é atribuição do Presidente da República”, disse o ministro.

“A decisão sobre atividades essenciais é uma coisa definida pelo Ministério da Economia. O que acredito é que qualquer decisão que envolva a definição como essencial ou não passa pela tua capacidade de fazer isso de uma forma que proteja as pessoas. Para deixar claro que é uma definição do Ministério da Economia, não nossa”, emendou Teich.

A atitude de Bolsonaro mostra que será curto o tempo de Nelson Teich à frente do Ministério da Saúde, que nos últimos dias foi transformado em quartel, tamanha é a quantidade de militares nomeados para postos-chave da pasta.

Nenhum médico ou profissional da saúde, com doses rasas de responsabilidade, seria capaz de endossar uma decisão como a tomada nesta segunda-feira por Jair Bolsonaro, que sabe da inocuidade do próprio ato. Resta saber até quando Teich suportará essas humilhações.