Conteúdo de vídeo de reunião ministerial é “devastador” e “muito ruim” para o presidente Jair Bolsonaro

 
A exibição do vídeo da reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto em 22 de abril passado complicou sobremaneira a situação do presidente Jair Bolsonaro, que a segunda-feira (11) dizia ter “preocupação zero” em relação ao material, citado por Sérgio Moro em depoimento como prova da tentativa de interferência política do mandatário no comando da Polícia Federal.

A exibição da gravação aconteceu no Instituto Nacional de Criminalística da PF, na capital dos brasileiros, “em ato único”, como determinado pelo ministro Celso de Mello. A “sessão de cinema” contou com a participação de Moro e seus advogados, integrantes da Advocacia-Geral da União e procuradores e investigadores que acompanham rumoroso caso.

Investigadores que acompanharam a exibição do vídeo entendem que o conteúdo da gravação “escancara a preocupação do presidente com um eventual cerco da PF a seus filhos” e que Bolsonaro “justificou a necessidade de trocar o superintendente da corporação no Rio de Janeiro à defesa de seus próprios filhos”, sob a falsa alegação de que sua família estaria sendo “perseguida”.

“Não vou esperar foder alguém da minha família. Troco todo mundo da segurança. Troco o chefe, troco o ministro”, disse um irritado presidente, preocupado com a possibilidade de o cerco se fechar no entorno dos filhos, segundo relatos de pessoas que acompanharam a exibição da gravação da reunião ministerial.

 
De acordo com os investigadores, o material é “devastador” para o presidente da República, já que a gravação confirma de forma inequívoca as acusações do ex-ministro Sérgio Moro, que atribui a Bolsonaro tentativa de interferência na direção da PF e em algumas superintendências da corporação. “O vídeo é ruim para Bolsonaro, muito ruim”, disse um dos investigadores.

Com essa avaliação sobre o conteúdo da gravação, os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) que depõem à PF nesta terça-feira no âmbito do respectivo inquérito, ficam em situação extremamente delicada, pois qualquer declaração que fuja do conteúdo do vídeo será considerada como descumprimento do compromisso legal de dizer somente a verdade.

Se por um lado, após a exibição do vídeo e a avaliação preliminar do conteúdo da reunião, o procurador-geral da República, Augusto Aras, não terá como deixar de oferecer denúncia contra Bolsonaro, por outro caberá à Câmara dos Deputados decidir pela abertura de processo contra o presidente da República o seu afastamento do cargo. Isso obrigará Bolsonaro a intensificar ainda mais o escambo com o “Centrão”, como forma de evitar o pior.

Após as primeiras avaliações sobre o conteúdo da fatídica reunião, durante a exibição do material, o mercado financeiro reagiu negativamente, temendo desdobramentos desse episódio que certamente começa a abalar as estruturas do governo. A Bolsa de Valores de São Paulo registrou queda de 1,51%, encerrando os negócios desta terça-feira aos 77.871,95 pontos. No mercado de câmbio, o dólar registrou alta de 0,82%, cotado a R$ 5,86, recorde nominal. O euro registrou alta de 1,36% e encerrou o dia cotado a R$ 6,37.