Após afirmar que economia brasileira estava “em pleno voo”, Paulo Guedes agora fala em “meia anemia”

 
Quando o UCHO.INFO afirmava que o ministro Paulo Guedes, da Economia, faltava com a verdade ao falar sobre a realidade econômica do País, não se tratava de mera figura de retórica. De igual modo, quando dissemos que Guedes avaliava a economia brasileira a partir de uma barraca da praia do Leblon, no Rio de Janeiro, onde o ministro costuma frequentar, também não se tratava de floreio redacional, até porque o titular da Economia vez por outra é tomado por diversionismos de ocasião.

Como sempre informamos aos que acompanham o nosso jornalismo, é impossível falar em crescimento econômico sustentável em um país onde a maioria da população (dois terços) recebe menos de dois salários mínimos, 48 milhões de trabalhadores estão na informalidade, 42 milhões de brasileiros dependem do programa “Bolsa Família” e 15 milhões de cidadãos ou mais estão desempregados.

Antes do desembarque do novo coronavírus no Brasil, Paulo Guedes abusou do devaneio discursivo ao afirmar que a economia brasileira “havia decolado e estava em pleno voo”. Esse palavrório descolado da realidade foi repetido depois dos primeiros efeitos colaterais da pandemia de Covid-19, ocasião em que o ministro afirmou: “Estávamos em pleno voo, começando a decolar quando fomos atingidos por essa onda”.

Como sempre ressaltamos, qualquer cidadão tem garantido pela Constituição o direito à livre manifestação do pensamento, mas distorcer os fatos e ludibriar a opinião pública não é recomendável para um integrante do governo, eleito sob a alegação de que o presidente era o único candidato capaz de solucionar os graves problemas do País.

 
Nesta sexta-feira (29), Paulo Guedes não chegou a fazer um “mea culpa”, mas disse que analisará o PIB do primeiro trimestre de 2020 para verificar se a economia estava “em pleno voo” antes da pandemia. O ministro reconheceu que o estado da atividade econômica nacional poderia estar “meio anêmico” nos dois primeiros meses do ano.

“Vou pedir para desagregarmos. Para vermos se nos dois primeiros meses já estávamos decolando e no terceiro mês a crise nos derrubou, ou se já estávamos em estado meio anêmico”, afirmou Guedes em seminário virtual promovido pelo BNDES.

O ministro voltou a dizer que acredita ser possível a economia do País se recuperar em “V”. “Falo em V porque os sinais vitais da economia estão mantidos. Pode ser um V meio torto? Pode. Pode ser um V da Nike? Pode”. O logotipo da marca esportiva mencionada por Guedes tem uma das pernas do “V”, a segunda, mais próxima da horizontal, o que sugere uma recuperação econômica mais lenta e demorada.

Faz-se necessário ressaltar que o próprio Paulo Guedes disse, em 2019, que a economia nacional retomaria o caminho do crescimento após a aprovação, pelo Congresso Nacional, da reforma da Previdência. A matéria foi aprovada graças ao empenho do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fez o papel que cabia ao governo Bolsonaro, mas até agora a economia não deu sinais de recuperação.