Bolsonaro surta e diz que atos em seu favor são espontâneos e democráticos, os contrários, obra de terroristas

 
Vocacionado para a tirania, Jair Bolsonaro parece desconhecer o dito popular “pau que bate em Chico, bate em Francisco”, cujo significado remete à isonomia de tratamento. Preocupado com a reeleição, o que o obriga a governar apenas para seu eleitorado, o que por si só é um desvario, Bolsonaro decidiu tratar seus opositores com a ignorância e a truculência que sempre emolduraram sua trajetória política.

Temendo não ter, em 2022, votos em quantidade suficiente para conquistar novo mandato, o presidente da República começa a investir contra aqueles que deixaram a letargia e decidiram sair às ruas do País para defender a democracia, condenar o fascismo e protestar contra o governo.

Nesta quarta-feira (3), Jair Bolsonaro afirmou que deseja “retaguarda jurídica” para que policiais possam atuar contra os movimentos antifascistas. Em mais uma de suas conhecidas aberrações do pensamento, o presidente disse que as manifestações a seu favor são espontâneas e democráticas, mentira que a CPMI das Fake News e o inquérito que tramita no Supremo Tribunal federal (STF) já comprovaram.

No contraponto, Bolsonaro afirmou que os protestos contra o seu governo são feitos por “terroristas”, como se a livre manifestação fosse crime no Brasil. O presidente declarou que o País não pode enfrentar o que ocorreu recentemente no Chile, onde a população saiu às ruas durante semanas a fio para protestar contra a administração de Sebastián Piñera.

Bolsonaro tem insistido em recorrer a instituições, símbolos e valores da República para intimidar os adversários e os Poderes constituídos (Judiciário e Legislativo), na esperança de que todos se coloquem de joelhos diante de seus desejos, todos contra a democracia e o Estado de Direito.

 
A retórica do presidente não passa de mais uma invencionice palaciana esculpida às pressas no chamado “gabinete do ódio” e encampada de chofre pelos ministros fardados, como se a população não tivesse capacidade de raciocinar e perceber o óbvio.

Diante da possibilidade de os movimentos antifascistas ganharem corpo e avançarem na linha do tempo, Bolsonaro e seus principais assessores começam a desconstruir a iniciativa com rotulações descabidas e mentirosas, pois se no cenário político nacional existe algum terrorista em ação, esse certamente está no grupo de apoio ao presidente.

Qualquer tentativa de Bolsonaro de aprovar um projeto de lei que puna o cidadão que protestar contra o governo será automaticamente derrubado pelo Supremo, pois trata-se de matéria inconstitucional. A reação do Palácio do Planalto às manifestações contra o governo ocorridas no último final de semana em algumas cidades brasileiras mostra a preocupação com o movimento.

A grande questão que tem tirado o sono dos palacianos é que a maioria da população do País (70%) é contra o governo e o presidente da República, cenário que aponta para um desfecho incerto, mas com grandes chances de “incendiar” o Congresso Nacional a ponto de impulsionar um dos muitos pedidos de impeachment que estão estacionados no Parlamento.

Alguém pode alegar que o Centrão, cooptado a peso de outo pelo presidente, dificilmente aprovará um pedido de impeachment do presidente, mas não se deve esquecer que Bolsonaro passa e os parlamentares dependem do voto popular para continuar na política. Por maior e mais tentador que seja o butim, ninguém quer colocar a mão no dinheiro do erário pela última vez. Além disso, o fato de Bolsonaro ter atraído o Centrão de maneira condenável servirá de combustível para as manifestações contra um governo eleito à sombra do discurso de combate à corrupção.