Enquanto Bolsonaro e assessores falam em democracia, plano do “golpe branco” avança no Planalto

 
O governo de Jair Bolsonaro continua flertando com o golpismo, mesmo que o presidente da República e seus principais assessores aleguem ser defensores da democracia. Sem ter mostrado até então uma nesga de disposição para governar de forma indistinta em termos ideológicos, mas preocupado em blindar os filhos, alvos de investigações diversas, Bolsonaro atua a partir do Palácio do Planalto para atentar contra a democracia e o Estado de Direito.

Tomando como referência o popular ditado romano acerca de Pompéia Sula, esposa do imperador Júlio César, a ela não bastava ser honesta, mas parecer como tal. No caso de Bolsonaro, de nada adianta o presidente falar em democracia e respeito à Constituição, se seus atos e suas declarações avançam na direção contrária. Ou seja, a Bolsonaro não basta dizer que é democrata, mas agir como tal.

Enquanto o presidente da República desafia a democracia brasileira, seus principais assessores insistem em afirmar que é nula a possibilidade de golpe. Nesse contexto é preciso ressaltar que atualmente não mais existe aquele golpe clássico, que agora só tem espaço em produções cinematográficas, mas uma versão contemporânea que vende a falsa de ideia de democracia, mas que na verdade abre terreno para regimes totalitários.

Bolsonaro vem recorrendo a alguns valores e símbolos da República para passar à opinião pública a mensagem de que as forças militares estão a seu lado e que entrarão em cena em caso de necessidade. É bom que se diga que o artigo 142 da Carta Magna prevê a intervenção das Forças Armadas apenas para garantir a manutenção da lei e da ordem, ou seja, da própria democracia, podendo ser requisitada por qualquer um dos Poderes constituídos. Somente um analfabeto em Direito afirma que as forças militares têm respaldo constitucional para intervir como deseja Bolsonaro.

A estratégia de Jair Bolsonaro, como já citado pelo UCHO.INFO diversas vezes, é testar a capacidade de resistência do Judiciário e do Legislativo, o que explica suas constantes investidas contra esses dois Poderes. Tudo não passa de intimidação rasa e tosca, mas que tem colocado a democracia à beira do precipício.

Ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva esteve ao lado de Bolsonaro durante sobrevoo na Praça dos Três Poderes, no último domingo (31), quando mais uma vez manifestantes reuniram-se para manifestar apoio ao governo e cobrar o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso nacional, a exemplo do que aconteceu em manifestações anteriores.

O titular da Defesa alega que as Forças Armadas cumprem estritamente o que determina a Constituição e que não existe a menor possibilidade de intervenção militar, mas não é isso que se extrai das muitas atitudes golpistas do presidente e de assessores. Se Azevedo e Silva é de fato um defensor da democracia, algo que ainda precisa ser provado, que passe a recusar os convites de Bolsonaro para atos de caráter golpista. O ministro pode alegar que o presidente não participa nem convoca os protestos, mas age como animador de auditório.

Ministro-chefe da Secretaria de Governo, o também general Luiz Eduardo Ramos é outro colaborador de Bolsonaro que rechaça a possibilidade de golpe, mas não reage de maneira adequada às investidas golpistas do presidente da República.

 
Em entrevista à radio Band, o chefe da Secretaria de Governo negou que o presidente endosse as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que há dias falou que a ruptura não era questão de “se”, mas de “quando”. Ramos alegou que os filhos de Bolsonaro têm imunidade parlamentar e “podem falar o que quiserem”.

Ramos, que de inocente nada tem, sabe que Bolsonaro usa os filhos para vociferar aquilo que não pode dizer em função do cargo. Por isso, as declarações dos filhos do presidente, sempre alinhadas à utopia ultradireitista, não passam de pífio espetáculo de um aprendiz de ventríloquo. E nessa ópera bufa a imunidade parlamentar funciona como cortina de fumaça, o que não livra os filhos do presidente de responsabilização.

Outra pessoa próxima a Bolsonaro que começa a trocar os punhos de renda pelas garras do autoritarismo é o vice-presidente da República, que até então era visto como alternativa à radicalização que se instalou no Palácio do Planalto. Hamilton Mourão, que ficou conhecido por ser especialista em colocar “panos quentes” nas aleivosias de Bolsonaro, agora ataca a democracia sem cerimônia.

Em artigo publicado nesta quarta-feira (3) no jornal “O Estado de S. Paulo”, Mourão ataca os movimentos em prol da democracia e chama os manifestantes de “delinquentes” e afirma que são ligados ao “extremismo internacional”, sem apresentar uma só prova dessa aludida relação.

Fazendo eco ao mantra totalitário que soa nos corredores do Palácio do Planalto, o vice-presidente afirma em seu artigo que “baderneiros são caso de polícia, não de política”. Ora que não consegue conviver com o contraditório e manifestações populares não pode falar em democracia, muito menos em Estado de Direito.

Na mesma toada, mostrando que no Palácio do Planalto o discurso golpista é devidamente ensaiado, Bolsonaro chamou de “marginais e terroristas” os manifestantes que foram às ruas de algumas cidades no último domingo para protestar contra o governo e defender a democracia.

“Começou aqui com os antifas em campo. O motivo, no meu entender, político, diferente [dos protestos nos EUA]. São marginais, no meu entender, terroristas. Têm ameaçado, domingo, fazer movimentos pelo Brasil, em especial, aqui no DF”, disse Bolsonaro aos apoiadores que o aguardavam na manhã desta quarta-feira à porta do Palácio da Alvorada.

Ora, se Jair Bolsonaro de fato defende a democracia, deve aceitar com tranquilidade qualquer manifestação, mesmo que contra o governo, pois as ruas do País não são exclusividade da direita xucra e truculenta.

Não é de hoje que o UCHO.INFO alerta para o desejo do presidente de, em algum momento, dar um “cavalo de pau” na democracia, assim como sempre afirmamos que Mourão não é muito melhor que Bolsonaro, apesar de seu conhecido preparo, pois ele é apenas “menos ruim”.