Quando o UCHO.INFO afirma que o presidente Jair Bolsonaro se escora na delinquência intelectual para dar vazão ao seu conhecido autoritarismo, não se trata de mera questão de retórica, mas de constatação dos fatos. Sempre pronto a ludibriar a opinião pública com falácias e teorias absurdas, Bolsonaro ultrapassou as fronteiras da desfaçatez ao ordenar ao Ministério da Saúde que os dados diários sobre a Covid-19 no País sejam divulgados apenas às 22 horas.
A decisão de retardar a divulgação do balanço diário sobre o novo coronavírus no Brasil tem como explicação, não assumida pelo Palácio do Planalto, a necessidade de evitar que esses dados sejam noticiados pelos telejornais. Uma estratégia rasteira e típica de pessoas ignorantes, pois quem quiser conhecer os dados basta acessar os números disponibilizados pelas Secretarias de Saúde estaduais.
O Ministério da Saúde alega que o atraso na divulgação se deve à dificuldade para captar os dados em cada estado, o que não corresponde à verdade. Qualquer iniciante em computação é capaz de elaborar uma planilha para inserir os dados de cada unidade da federação e, ao final, conseguir o total de mortos, infectados e recuperados a cada 24 horas.
Anteriormente, quando a pasta era comandada pelo então ministro Luiz Henrique Mandetta, os dados sobre a pandemia do novo coronavírus no País eram divulgados diariamente em entrevistas coletivas que aconteciam sempre às 17 horas. Mandetta estava sempre acompanhado de uma equipe técnica que esclarecia detalhes sobre a situação da pandemia no País, importantes para a formulação de matérias jornalísticas e gráficos e estatísticas.
Com a demissão de Mandetta e a chegada de Nelson Teich ao comando do Ministério da Saúde, as coletivas passaram a rarear e nem sempre contavam com a participação de técnicos da pasta. Esse novo cenário foi reflexo da postura inicial de Teich, que se deixou dominar por um presidente da República adepto da pouca transparência.
Agora, com a pasta sob a batuta de Eduardo Pazuello, general de divisão especialista em logística e que está cercado por um punhado de militares que desconhecem questões relacionadas à saúde, as entrevistas coletivas raramente acontecem. E quando são concedidas as informações não são suficientes para colocar a opinião pública a par da real situação da pandemia.
Questionado sobre a pouca transparência na divulgação dos dados e a motivação dos atrasos, o Ministério alegou, por meio de nota, a necessidade de checar as estatísticas das secretarias estaduais e municipais de Saúde. No comunicado, a pasta não informou se o horário das 22 horas será oficializado para a divulgação dos dados sobre a pandemia do novo coronavírus, como se essas informações não se tronassem públicas na sequência.
“A pasta analisa e consolida os dados, sendo que em alguns casos há necessidade de checagem junto aos gestores locais. Desta forma, o Ministério da Saúde tem buscado ajustar o horário de divulgação dos dados, que são publicados diariamente na plataforma covid.saude.gov.br”, afirma o Ministério da Saúde, em nota.
A situação é tão absurda, que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de forma indignada cobrou mais transparência por parte do governo e disse que se for o caso a Casa legislativa montará um centro para compilar os dados diários sobre a Covid-19 em todo o País, divulgando-os em horário condizente com o fechamento das edições dos telejornais.
Não é novidade o pouco apreço de Jair Bolsonaro pela transparência no campo da governança, algo que ficou evidente na fatídica reunião ministerial do último dia 22 de abril, quando o presidente da República afirmou que interferiria na direção da Polícia Federal, manobra cujo objetivo maior era impedir o avanço de investigações que têm na mira seus filhos.